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Para Leminski, “triste é a cultura das elites” | Arquivo/Gazeta do Povo
Para Leminski, “triste é a cultura das elites”| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Muito mais do que crítica, a produção reflexiva do poeta Paulo Leminski (1944-1989) se enquadra no que ele próprio chamou de textos-ninjas ou capoeiras culturais, como pode ser visto na recente edição de seus Ensaios e Anseios Crípticos, originalmente publicado em dois volumes (1986 e 2001) pela Criar Edições. Leminski evita as maquinações preguiçosas dos textos acadêmicos e o comedimento jornalístico, partindo para o ataque. Cada ensaio, com suas estruturas originalíssimas, tenta derrubar o leitor com frases curtas que são golpes certeiros. Ele não escreve, antes luta artes marciais nesses textos em que a contradição é uma constante.

Dividido entre a arte difícil e a mensagem fácil, entre a ruptura da linguagem de vanguarda e as concessões ao mercado midiático, entre a glória artística e o sucesso de público, ele escreveu textos a partir de estados de alma conflitantes. E tinha consciência disso: "Me diverte pensar que, em vários momentos, estou brigando comigo mesmo" (p. 18). Estas brigas são assim dilemas interiores.

Criado dentro de uma ideia de cultura como erudição, vangloriando-se de falar vários idiomas (muitos de seus ensaios são apresentações de livros traduzidos por ele), o poeta viveu um tempo em que arte e showbiz são indissociáveis. Ao mesmo tempo em que buscava um ideal, a leitura de clássicos e a inovação de linguagem, ele queria o calor da multidão, a aclamação em um show de rock. Ele nega o fácil (o realismo em arte ou o surgimento de um gosto de classe média) e afirma os grandes escritores (os inventores), ecoando os ensinamentos teóricos dos concretistas, mas cai na folia da contracultura, da geração beat, sobe ao palco com cantores e se faz músico e letrista, produzindo para o mercado.

Só aceitando esta contradição é que entenderemos a sua centralidade na cultura contemporânea. Leminski, dentro do espírito tropicalista, misturou saber e arte pop, criando uma obra que tem o seu lado complexo, funcionando como um ramo das vanguardas (o seu Catatau é a radicalização maneirista de James Joyce) e o seu lado altamente comunicativo, com poemas que podem ser estampados em camisetas. Qual desses dois é o Leminski verdadeiro? Nenhum dos dois. Mas o espaço de tensão criado entre eles.

Falando do Sul do Brasil, mais especificamente de Curitiba, ele percebe que a cultura erudita, quando desenraizada, perde a sua fertilidade: "Triste é a cultura das elites, quando sem comércio com formas culturais das classes mais populares" (p.35). Por isso, ele se aproxima dos baianos da música, para conquistar um chão nacional, enquanto nega o romance regional de 30, principalmente de extração nordestina. Ele faz sucesso por conta da música, mas insiste em afirmar que a função da arte, principalmente a da poesia, é negar a condição de mercadoria.

Mesmo quando se entregava ao mercado, Leminski matinha ativa a sua obsessão pela vanguarda, a sua busca de uma recepção culta. Alguns de seus artigos são tentativas de conciliar estes dois mundos – o próprio estilo marcial é um esforço nesse sentido –, mas a grande maioria deles é a afirmação do valor absoluto da inovação. Isso funcionou para criar o mito do erudito acessível ao fruidor médio: "Certas coisas parecem brigar, quando estão apenas se somando: a soma, talvez, seja uma operação aritmética marcada pela violência e pela ferocidade" (p.75). É esta soma furiosa que encontramos em sua obra e também nestes textos de intervenção que sobrepõem os verbos agredir e agradar.

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Serviço:

Ensaios e Anseios Crípticos, de Paulo Leminski. Editora da Unicamp, 2011. 336 págs. R$ 35. Ensaios.

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