As informações que acumulei sobre o poeta Colombo de Sousa são mínimas.

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Uma foto feita por Temístocles Linhares em que aparecem ele, Armando Ribeiro Pinto, Glauco Flores de Sá Brito, Dalton Trevisan (que, sim, fazia vida literária naquela época), Samuel Guimarães da Costa e José Paulo Paes. Estão no Aeroporto de Congonhas e voltam do Segundo Congresso Brasileiro de Escritores. O ano é 1947. Mas esta foto não foi suficiente para que eu me interessasse pelo poeta.

Algum tempo depois, li um poema seu no Nicolau nº 28 (dezembro de 1989), publicado sem destaque numa página chamada "Triz":

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Sou todos ou ninguém. Se alguém me viu

Vagando por aí, errou. Mentiu.

Era o mundo em meu rosto desenhado.

O texto me agradou bastante, mas não havia nenhuma nota biográfica sobre este autor, ele era e continua sendo, literalmente, ninguém para a cultura paranaense.

Deixei passar mais esta oportunidade de me encontrar com a sua poesia. Depois disso, de vez em quando eu pensava no poeta, em como seria a sua obra. Mas logo me esquecia dele.

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Este mês estive com Jayme Ferreira Bueno, que foi meu professor e que se fez presente em momentos decisivos de minha vida profissional. Jayme é leitor e estudioso de poesia e, aposentado, resolveu dedicar-se a um blog de divulgação de literatura (jaymebueno.blogspot.com). Lá, encontro um belo parágrafo de recordação: "Tive a oportunidade de conhecer Colombo de Souza no início dos anos 60. Ele era grande amigo do Professor Azaury Marés de Souza, meu colega de magistério no Ginásio Professor João Cândido. Grande contador de anedotas, fazia com que passássemos longo tempo ouvindo suas histórias e também algumas piadas. Com o passar do tempo, perdi o contato com o poeta, mas ficou em mim uma forte impressão de Colombo de Souza como poeta e como homem bon vivant e boêmio". Tocado por este depoimento, entrei no site da Estante Virtual e comprei quatro livros de Colombo de Sousa. Antologia Poética (1973), O Anúncio do Acontecido (1968), Fuga (1948) e Painéis (1945).

O professor Jayme Ferreira Bueno lembra que, com Fuga, depois de ter estreado dentro do espírito conservador da Geração de 45, Colombo de Sousa adere ao modernismo e é expulso de uma Academia de Letras. Esta mesma passagem tardia para uma forma de expressão moderna aconteceu com José Paulo Paes e Dalton Trevisan.

A grande surpresa é que a poesia de Colombo de Sousa tem qualidade. São versos autênticos, que tratam de dramas humanos eternos em uma linguagem que é inusitada sem ser hermética, lírica sem ser piegas. Ele alterna um registro mais musical a outro mais prosaico, obtendo uma poesia compreensível. É de grande perfeição o soneto "Alegoria do Dia e da Noite", que revela um poeta moderno tocando uma lira tradicional:

São dois cavalos de variado porte,

Cavalgando-os por sonhos, pesadelos,

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Descubro o colorido de seus pêlos,

Atento aos pontos cardeais da morte.

Talvez ao branco, ao preto me reporte,

Levam-me (sem ouvir os meus apelos)

Aonde não sei. Quem poderá detê-los?

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Assim talvez à ilha do sonho aporte.

Soam os dois quais músicas em dueto

E, ao vê-los, minhas lágrimas estanco,

Atos do herói que antes não fui – cometo,

Poemas de amor do coração arranco.

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– Sou noite e morte no cavalo preto,

Sou dia e vida no cavalo branco.

Não sei por que caminhos o cavalo preto conduziu o poeta. Mas tento entender por onde ele passou com seu cavalo branco. O que fez este artista? Há entrevistas com ele? Deixou poemas inéditos? Qual foi seu derradeiro livro? Quem são os herdeiros?

Na série de crítica de Wilson Martins, encontro apenas três referências, com uma única avaliação – negativa – do poeta, que acabava de lançar uma de suas antologias, Estágio (1960). Diz o crítico que se trata de um poeta sem literatura nem poesia; embora reconheça nele uma língua mais regular, conclui que "repete certo vocabulário demonetizado, como ‘bicicleta do sonho’ ou ‘violino derretido no espelho’" (Pontos de Vista nº 4, p.339). Apesar desta crítica, e da ausência de comentários sobre outros de seus livros, sigo em busca de mais informações sobre o poeta.

No Dicionário Histórico-Biográfico do Estado do Paraná, ele aparece apenas como um dos organizadores da antologia Letras Paranaenses. Mais do que o fato de ele não contar para a cultura paranaense, esta ausência sugere que talvez sequer tenha existido. Seriam as recordações de Jayme Ferreira Bueno uma página de ficção? E seus poemas talvez sejam obra de um heterônimo, feita por algum oculto autor.

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Os livros dele que comprei são autografados. Há a reprodução de poemas manuscritos. Mas isso não é suficiente para me aproximar do poeta. Queria mais fatos sobre ele. Saber exatamente onde nasceu, ver fotos de sua infância, e depois de sua velhice. Saber onde estudou e trabalhou, quando desencantou. Criar, enfim, um estofo biográfico para um autor que parece ter deixado tão poucos sinais de sua passagem.

Em seus poemas, falava que preferia escrever à noite, quando as pessoas dormiam. Talvez tenha existido apenas à noite. E por isso a ausência de memória sobre ele. Levou ao extremo o projeto de isolamento? Ou simplesmente não foi reconhecido em vida e não soube lutar para que este reconhecimento viesse?

Sejam quais forem as respostas a estas dúvidas, uma coisa é certa: somos um estado que esbanja os seus talentos.