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Passados quatro anos, resolvi tirar meu site pessoal do ar. Não chegou a ser uma decisão, foi mais um cansaço. Nele, havia o conteúdo estático, críticas, resenhas, cronologia etc., mas havia também um conteúdo móvel, que aparecia no blog acoplado à página. No início, tentei escrever coisas diárias, mas fui desanimando. Só reproduzia minhas resenhas críticas e as crônicas, e eventualmente algum poema. Não tinha muito de blog, portanto. Com o tempo, parei de fazer resenha, o que diminuiu o conteúdo disponível. Apenas publicava ali as crônicas. E acrescentava, uma vez por ano, os novos títulos. Depois, não atualizei nem a bibliografia. E a página se mantinha por inércia. Agora, diante da necessidade de renovar a licença para o uso do endereço, um valor insignificante, decidi sabotar este projeto. Foram vários avisos de que o domínio seria desativado, e eu não respondi a nenhum deles. O resultado é que faz uns dez dias que a página se apagou. Se o leitor procurar o site, vai se deparar com a mensagem: "endereço não encontrado".

Tem sido este o meu mais profundo desejo. Morar em um endereço não encontrável. O fim do site completa um processo de isolamento em que me empenho ultimamente. Transitar só o indispensável, não atender telefonemas, não visitar amigos e mais um rosário de nãos. Não se pense, no entanto, que ando deprimido. Que sofro de síndrome do pânico. Ou que estou devendo algo na praça. Nada disso. Apenas me cansei dos lugares comuns. E a internet virou um grande lugar comum.

Primeiro, todos acham que a internet forma leitores. Mais um dos equívocos contemporâneos. A leitura, tal como deve ser entendida, está bem longe de ser a passada de olhos por páginas inconfiáveis. Ler pressupõe pensar. Exige espaços para anotações no texto. É um processo de suspensão do movimento do mundo, de participação da eternidade, enquanto a internet é movimento puro, movimento que começa no mouse (o internauta vai clicando compulsivamente) e acaba em uma aceleração temporal. Correr em busca de algo. Leitura dinâmica, pulando palavras e até parágrafos. A internet, dessa forma, é o espaço da antileitura. Espaço de navegações apressadas.

E, tragicamente, território quase exclusivo de emissores. Todos se fazem autores de textos nesta zona franca. Todos são donos de opiniões. Todos querem colecionar comentários. E aí começam as cobranças: estive no seu site, dê uma passada no meu. Ou seja, ação entre amigos. E nem se espera ser lido, mas que se passe pelas páginas da turma.

Tenho que admitir que a internet ajudou a melhorar a espontaneidade do estilo coletivo. Mas também o banalizou. Escreve-se na rede a partir do princípio do copiar e colar. E o resultado está aí: o fim das marcas pessoais. Mesmo assim, trata-se de um ganho.

Mas o que mais me incomodava em meu site era deixar minha casa sempre aberta. A pessoa podia entrar lá e cometer um dos maiores crimes contra a privacidade – mandar textos para você ler. No começo, eu tentava ler. Depois, não dava mais conta. E me sentia mal. Não tenho a cara dura de dizer que li o que não li. E não conseguia sequer dar uma olhada em tantos arquivos.

O lado bom do site era receber correspondência de alguns leitores que queriam comunicar a sua emoção depois do contato com o texto. Só por esses poucos comentários, valeu a pena ter mantido a página. Mas mesmo assim deixei que ela se desfizesse, pois eu não sabia como responder a estas raras manifestações de afeto desinteressado.

Nem só esta inexistência na rede denuncia, no entanto, minha fuga da onipresença eletrônica. Contrariando os ventos contemporâneos, comecei a produzir contos longos à mão. Trabalho em um deles agora, copiando páginas e páginas. Escrever voltou a ficar demorado. E isso me agrada.

Renuncio ao blog num momento em que estou escrevendo um diário em cadernos antigos. Mais um sinal de retorno no tempo. Todos portam laptops e eu carrego para cima e para baixo uns cadernos cheios de garatujas.

Tenho tentado também controlar a ansiedade para ler os e-mails. Evito, nas viagens, ficar toda hora abrindo a caixa do correio eletrônico. Nada é tão importante que não se possa esperar uns dias.

E já começo a nutrir outro projeto para despistar os caçadores de leitores para os próprios textos. Quero morar em dois endereços na mesma cidade. Ninguém saberá em qual deles estou, e sempre terei a desculpa de dizer que os livros não solicitados devem ter se extraviado por conta desta duplicidade postal.

Sonho gastar períodos curtos em lugares de passagem. Vagar de um canto a outro, vivendo a própria lógica da literatura, em que o autor nunca está em um lugar fixo.

Não que existam tantas pessoas me caçando. Não tenho esta importância toda. Mas os que me procuram já são suficientes para me roubar o pouco tempo de solidão para o qual nutro sim planos egoístas.

Nunca coloquei um contador no site, seria um motivo a mais para ansiedade: saber quantas vezes ele foi acessado. Mas os comentários às minhas matérias revelam o placar deste jogo. O maior número de pessoas que comentou um texto meu não chegou à primeira dezena. A grande maioria contou somente com um comentário. E até agora, com o fechamento do site, recebi uma única reclamação.

Sinal de que talvez não esteja de fato precisando me esconder.

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