Há pessoas que têm seus candidatos bem antes de estes terem sido postos. Votam com a esquerda ou com a direita. Votam nos ruralistas ou nos grevistas. O nome não importa, mas a linhagem, pois se sabem parte de algo. Acho bonito isso, pois pacifica.
A minha idéia de país me leva para este lado pensa esse eleitor.
É só passar no comitê e pegar o material. Porque nessa categoria estão os militantes, que se engajam na campanha pela causa.
E é em nome dela que recebem alegremente a pessoa indicada para defender idéias ou interesses. Se a escolha recai sobre alguém não muito defensável, assim mesmo esse eleitor o defende com entusiasmos próximos do fanatismo. Acha os pontos positivos do candidato, reduz todos os outros.
Quem não tem seus problemas? Política não é ambiente para vestais.
Os políticos que se fazem candidatos nestas circunstâncias nunca manifestam publicamente interesses pessoais, tidos como baixos. Estão colocando o nome ao grupo. Podem ser uma opção. O importante é que tenham alguém lá. Alguém que, democraticamente, vai traficar influência.
Quando os do grupo adversário estiveram lá não usaram o poder para isso? Porque nós é que temos que pensar na coletividade?
Para essa turma, política se faz a partir de um critério de pertencimento. São os cabeças-feitas. Só pensam naquilo. Acham que engajamento é defender a ideologia deles. Sofrem de crises de histeria quando discutem política, vendo armação em tudo. Este jornal ou essa televisão está tentando impor tal candidato contra o nosso. E daí vem crítica contra todos que não sejam politicamente esclarecidos, ou seja, todos que não apóiem o messias deles. Porque esses eleitores sempre têm candidatos próprios, os mártires da causa.
Mas há a massa perigosamente solta, sujeita ao entretenimento e suas armadilhas. Não são eleitores, pois não elegem uma causa, mas espectadores, macacos de auditório, e votam com a personalidade do momento. Podem apoiar, por exemplo, a última celebridade de uma de nossas muitas tragédias. Nômades do processo eleitoral, não se fixam em nenhuma latitude. Eleição se confunde, para essa manada, com festa, com programa sensacionalista, desses que se destacam por agredir pessoas.
Esses eleitores também pertencem a algo aos que estão fazendo sucesso. Votam como copiam as roupas ou o penteado de gente famosa. Para entrar na moda.
Existem ainda os seguidores de estatísticas. Não querem perder o voto. Estão com quem está na dianteira. Pesquisa é coisa séria para esses cidadãos, qualquer tipo de pesquisa. Tantos pontos na frente garantem o primeiro turno. Defendem que nunca haja um segundo turno. São os eleitores-farinha, que engrossam o caldo.
Para o segundo e o terceiro tipo de eleitores, a brincadeira acaba com a vitória. Comemoram. Fazem carreatas. Vibram. Abrem mais uma cerveja. Essas coisas todas. No dia seguinte, voltam à rotina. Só vão se interessar por política na próxima eleição.
Os dos primeiro grupo já preparam os projetos para propor aos seus candidatos, se estes foram vencedores. Se não foram, articulam-se imediatamente para a próxima eleição, porque é preciso começar a pensar novas estratégias, perdemos porque não conseguimos chegar ao nosso eleitorado, e outras justificativas do gênero.
Estes são os profissionais da política, os que escrevem para as redações dos jornais reclamando disso ou daquilo, aplaudindo tal medida, indignando-se com uma opinião ou uma postura. Você está diante do abominável animal político, que vê intenções estranhas até na propaganda de xampu.
Não seria uma crítica ao nosso candidato despido de proteção capilar?
Não queira discutir com este clérigo. Ele terá pequenas convulsões de ódio se você não concordar incondicionalmente com ele. Ficará com os cantos da boca espumando de nervosismo. Avermelhará os olhos esbugalhados. Explodirá em xingamentos.
À margem desses grandes grupos, há os que estão cansados de tudo, os heróis da desistência. Votam em branco e preferem colocar a tevê num canal fechado neste período, assistindo a um filme qualquer, desses ordinários, mais verdadeiros do que o nosso debate político. Logicamente, este eleitorado, crescente a cada ano, é contra a obrigatoriedade do voto. Um direito democrático exercido como dever, só mesmo no Brasil.
Sinto informar que não me encaixo em nenhum dos tipos que listei aqui. Nunca me filiei a partido nenhum e tenho o péssimo hábito de ser crítico em relação a tudo. Não faço parte de grupos, não me deixei pertencer a ideologias. Solitário, sem acompanhar os programas e publicações de entretenimento, não me fiando em pesquisas, tento identificar o melhor candidato em cada momento.
O melhor não, o menos pior me corrige meu mestre imaginário.
Concordo com um sorriso, lembrando-me de que nem sempre consegui apostar nos nomes disponíveis. Nesses casos, há sempre a desculpa de aproveitar a data eleitoral para uma viagem ao interior.