Os recentes acontecimentos em torno da Pracinha do Batel, dos quais chegamos a participar, nos alertou para um fato realmente interessante ligado à memória coletiva e à individual. Ambos os lados, os que eram a favor e os que eram contra a abertura da rua no meio da dita praça, estavam, às suas maneiras, exercendo seus direitos de cidadania. A visão tanto do pessoal nato em Curitiba como dos adventícios gerou uma controvérsia que deve ficar para a história da cidade.
Em nossas opiniões individuais, como cidadãos, apoiamos ou contestamos certas atitudes que possam inutilizar o que cada um sustenta como devido valor para si próprio e para a coletividade. Quem não gosta de relembrar o lado bom dos dias já vividos? Muitas vezes, tais lembranças têm de se apoiar em algum suporte material ou até mesmo em alguns sentidos, como odores e sabores.
A cada dia que passa são jogados na nossa memória os momentos da existência, com suas experiências. Não precisamos estar velhos para sermos nostálgicos. Quantos jovens e mesmo adultos já feitos notamos guardando alguma relíquia do seu passado, da sua infância? Um brinquedo, um objeto e, principalmente, fotografias, são coisas que nos transportam para aqueles tempos sem retorno.
A memória coletiva está presa exatamente nas coisas que sempre permaneceram em nosso entorno e que fazem parte da história de onde vivemos. Os marcos do passado e de nossa memória visual são o sustentáculo de tristezas e alegrias, das boas e más lembranças de que tanto precisamos para existir.
Quantas e quantas vezes, as coisas que desapareceram da paisagem urbana, ao serem lembradas, causam uma sensação de amargura, de um vazio angustioso por elas não terem sido preservadas. O progresso faz parte do sentimento individual, subir na vida, viver em conforto são alguns encantos desejados por todos. Alcançadas tais aspirações, as lembranças do passado começam a desfilar diante dos olhos. Ai começa a procura pelo tempo que já passou.
Aquele riacho, o campinho de futebol, o quintal cheio de frutas, a escolinha, o ar puro, as casas daquela rua aonde foram parar? Os amigos, as namoradas, os padres de batinas, os milicos fardados, as normalistas de uniforme, onde estará tudo isso? O riacho virou esgoto, o campinho sumiu engolido pelas ruas, aquele quintal deu lugar a um prédio de apartamentos, a escolinha desapareceu (agora é um estacionamento), o ar agora provoca moléstias, as casas daquela rua deram lugar a uma muralha de arranha-céus. Sumiu tudo. Agora só resta uma vaga lembrança, que, vez ou outra, ainda teima em aflorar na memória.
Como o leitor gosta de ver fotos históricas, mais do que um texto xaroposo como o aí de cima, vamos aos retratos de hoje. A primeira imagem mostra o antigo Palácio do Governo da Rua Barão do Rio Branco, fotografado em 1901. Esse prédio serviu posteriormente como Chefatura de Polícia, Secretaria de Interior e Justiça e ultimamente como sede do Museu da Imagem e do Som. Atualmente está desativado e aparentando certo abandono.
A segunda fotografia apresenta o antigo prédio da Universidade do Paraná, conforme seu projeto original do engenheiro Baêta de Faria. Foi totalmente remodelado no início da década de 1950, e a foto foi feita em 1941, quando o velho prédio ainda era pintado em tom rosa.
A terceira foto mostra a velha Rua Barão do Rio Branco, entre a Visconde de Guarapuava e a André de Barros, no ano de 1931, quando operários duplicavam as linhas dos bondes. As fachadas das casas mostram um aspecto europeu da antiga Curitiba.
Na quarta foto, vemos o antigo Gimnásio Paranaense, tendo à frente a Praça Santos Dumont. Esse prédio foi inaugurado em 1903, sendo o ginásio desativado em 1949. Atualmente, é sede da Secretaria de Cultura. A foto foi feita em 1925.
A quinta foto apresenta a Rua Cruz Machado, entre a Dr. Murici e a Praça Tiradentes, e foi feita quando a rua estava sendo alargada em 1941. Terminamos mostrando, na sexta foto, o prédio onde funcionou o escritório da Companhia Força e Luz do Paraná, na Rua Monsenhor Celso, entre a Rua XV e a Praça Tiradentes, em 1935.
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