O viajante normal, ou seja aquele que vai para outras paradas, as quais não conhece, e versado como turista é um ávido anotador de detalhes, na maioria das vezes induzido por um guia. Quando as observações são feitas por conta própria, as minúcias anotadas tornam-se realmente interessantes.
Os leitores aqui da Nostalgia não deixam de ser, também, turistas viajando no tempo através das fotos antigas. Muitos deles nos chamam a atenção para detalhes das imagens, coisas, por exemplo, que prenderam mais as suas atenções, como trajes, elegância, tipos de conduções, paisagismo e tantas outras coisas interessantes que sumiram do cenário remoto da cidade antiga.
Detalhista, como toda criança o é, meu neto Felipe, hoje com seus 20 anos, era fissurado em dinossauros. Tanto o era que, com 3 anos e meio de idade, me fez levá-lo ao cinema para assistir à estreia do filme Parque dos Dinossauros. Gostou tanto que tornou a rever o filme por cortesia da gerência do cinema. Vídeos, publicações e toda espécie de bonecos que representassem as figuras dos pré-históricos animais ele os possuía, sabendo o nome de cada espécie.
Certa ocasião passávamos de carro pela Boca Maldita, e o Felipe fez a pergunta: "Cid, se a gente cavar um buraco aqui encontra algum dinossauro?" Pergunta que respondi com humor irônico: "Não precisa cavar, aqui em cima mesmo está cheio deles". Até hoje o piá não deve ter entendido o que eu quis dizer. Hoje, entretanto, eu me redimo. Estou publicando uma fotografia do tempo em que Curitiba tinha dinossauro, e na Praça Tiradentes.
A imagem não foi feita na era jurássica, mas sim há pouco mais de sessenta anos. Foi precisamente no dia 5 de junho de 1948 que o fotógrafo Domingos Foggiatto flagrou o bichão aboletado em cima da Estação de Bondes da Praça Tiradentes fazendo propaganda do óleo lubrificante Sinclair. Estava lá o nosso dinossauro.
Recentemente o arqueólogo Igor Schmyz, escavando na Praça Tiradentes, encontrou o que parecia ser um calçamento dos primórdios de Curitiba. Remexendo fotos do acervo, encontrei duas imagens do começo do século passado da Praça Coronel Enéas, local que já possuiu diversos nomes ao longo dos anos, tais como Largo da Ordem Terceira, Largo de São Francisco das Chagas, Pátio do Senhor do Terço, Pátio do Chafariz da Cruz, Pátio da Carioca da Cruz e local que todo curitibano conhece hoje como Largo da Ordem. Muito bem, nas imagens que estão sendo publicadas vemos o seguinte:
A primeira foto, tirada no início de 1900, vemos o Largo da Ordem com o leito da rua ainda de terra, tendo à direita um quiosque e o poço onde a população local servia-se de água, poço mais conhecido como Chafariz ou Carioca da Cruz. No meio aparece a antiga Rua Fechada, hoje José Bonifácio, sendo que em seu centro aparece uma faixa calçada com pedras irregulares e iguais às encontradas na Praça Tiradentes. Tal calçamento nada mais era do que uma sarjeta para conduzir as águas das chuvas sem que elas causassem erosões em suas passagens.
Na segunda foto, já em 1907, a Rua José Bonifácio aparece calçada com paralelepípedos e exatamente onde estava à sarjeta. Notamos as pedras desencontradas como que marcando o velho canal por onde escorriam as águas pluviais.
Ainda colocamos mais três fotos com aspectos curiosos cujos detalhes o leitor poderá constatar. Uma das fotos foi feita da Rua Marechal Deodoro em direção à Praça Zacarias, onde se concentra um farto movimento com pedestres, bicicletas, automóveis e bonde, tudo isto há meio século.
Ainda temos a imagem da Rua Cândido Lopes recém-aberta, entre a Praça Tiradentes e a Rua Dr. Murici, em 1941. O destaque fica por conta da torre do Quartel dos Bombeiros hoje no local a Biblioteca Pública , do alto daquela torre um bombeiro vigiava quase que Curitiba inteira.
Terminamos com uma peça curiosa trabalhando na Praça Tiradentes: a máquina, uma compressora, compactando o solo para a colocação dos trilhos para os bondes elétricos em setembro de 1912. Tal compressora era movida a lenha e a vapor e funcionou nas ruas curitibanas até a década de 1950. Sua presença era um espetáculo extraordinário para a piazada e também para os adultos em geral.