Curitiba reunia em seus velhos carnavais de rua do século passado um público estimado entre quinze e vinte por cento da sua população. Isso há cem anos, ou um pouco menos, significava que de oito a doze mil curitibanos tomavam parte nos festejos momescos na principal artéria da cidade, a Rua Quinze de Novembro. Imaginando transferir tal porcentagem para os dias atuais, teríamos um público de mais de duzentas mil pessoas participando do nosso carnaval de rua.
Até o início da década de 1950, o povo comparecia em massa na Avenida Luiz Xavier e na Rua Quinze para ver e ser visto. Quando ainda era possível o desfile de carros alegóricos, e mesmo dos automóveis particulares, aquelas vias ficavam literalmente entupidas de gente. Muitos culpam o fechamento da Rua Quinze como sendo a causa da falência do carnaval de rua em Curitiba. Eu sou um deles. Porém, verdade seja dita, não foi a única causa.
Hoje a nossa efeméride carnavalesca deveria contar com duzentas mil pessoas, ou mais, nos desfiles da avenida. Isso não acontece por quê? Elementar, somente a Guaratubanda conta com tal número de foliões acompanhando o seu desfile. Isso sem contar com as outras festividades, tanto em nosso litoral como no de Santa Catarina. As facilidades de locomoções levaram os que curtem o carnaval para fora de Curitiba.
Várias tentativas tentaram, pelo menos, reavivar o desfile de blocos pelas ruas e pelos clubes da cidade. Uma delas foi a criação da Banda Polaca, há mais ou menos três décadas passadas. Em princípio foi bem, eis que, entretanto, um espertalhão registrou em seu nome a dita banda. Creio que seu último desfile ocorreu quando participavam dele algumas socialites, quando o famoso travesti e figura folclórica da Boca Maldita, conhecido por Gilda, tentou subir no carro onde estavam as dondocas.
O pau quebrou. Como aquela boneca andrajosa se atrevia a querer festar junto com madames tão importantes? Agressão. Aí a Gilda levou a pior. Bate-boca. Aí ela ganhou. Espadachim da língua ferina e na sua filosófica interpretação, de um verdadeiro arcabuz da miséria, inquiriu ao seu agressor: "Porque, em vez de se meter a machão, você não assume o teu lado feminino?" Foi a última vez que se ouviu falar em carnaval de rua, pela Rua Quinze de Novembro.
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