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Theatro Hauer, na Rua Mateus Leme, onde consta ter sido o local da primeira projeção de cinema em Curitiba, em 1897. A foto é de 1904. Ali se instalou também o Cine Marabá |
Theatro Hauer, na Rua Mateus Leme, onde consta ter sido o local da primeira projeção de cinema em Curitiba, em 1897. A foto é de 1904. Ali se instalou também o Cine Marabá| Foto:
  • Cine Theatro Palácio, instalado em parte do terreno onde funcionou o Coliseu, que ficava onde hoje é o Instituto de Educação. A foto é de um espetáculo circense em 24 de janeiro de 1918
  • Cinema de Francisco Serrador no Coliseu Curitibano, em 1906
  • O Coliseu Curitibano em cartão postal feito em 1906
  • Festa da Primavera no Coliseu Curitibano, em 20 de outubro de 1911

A primeira notícia que se tem do surgimento de uma projeção de cinema em Curitiba nos leva ao ano de 1897 no Theatro Hauer, ligado à colônia alemã da cidade. A grande novidade entretanto ficou, ao que parece, em apresentação como curiosidade. O cinema realmente iria surgir como diversão no início do século vinte, mais precisamente em 1904, pelas mãos de um imigrante espanhol que se tornaria famoso e faria fortuna graças a sua visão como empresário do entretenimento que estava nascendo.

Francisco Serrador Carbonell nasceu em Valência, na Espanha, em dezembro de 1872. Jovem, ajudou seu pai como vendedor ambulante de legumes, frutas e peixes. Com a morte do pai, emigrou para o Brasil, no ano de 1887, se fixando em Santos com a idade de 16 anos. Depois de trabalhar em todo o tipo de serviços braçais, tendo juntado pequena economia, resolve vir para Curitiba, onde, na época, existia um volume razoável de imigrantes espanhóis.

Chico Serrador, como passou a ser conhecido, acaba sendo dono de um quiosque, onde vendia frutas, rapaduras, passarinhos e outros tipos de mercadorias miúdas. Em poucos anos se torna dono de vários quiosques instalados nas praças de Curitiba de então. Serrador se associa ao seu patrício Manuel Laffite em uma agência de mensagens. Laffite, como bom espanhol, havia montado uma empresa de espetáculo tauromáquicos, ou seja touradas, isto em 1896.

Com Antonio Gadotti abre uma cancha de jogo de pelota basca, mais conhecido na época como jogo de frontão. Em 1902, funda, com os dois sócios, o Parque Coliseu Curitibano, onde instala uma série de diversões, muitas delas seriam novidades na cidade. Em 1904, Francisco Serrador monta o seu cinema dentro do espaço do Coliseu. Nesse mesmo ano, percebendo o filão da novidade que o cinematógrafo iria proporcionar, cria a empresa Richemboug, que se especializa em exibições de filmes, em locais diversos, inclusive no interior do Paraná e de São Paulo.

Francisco Serrador, casado, contava pouco mais de 30 anos, possuiu oito filhos, sendo que dois eram nascidos em Curitiba. Os demais nasceram em São Paulo e Rio de Janeiro. Sabe-se que uma de suas crianças faleceu e foi sepultada aqui. Muitas histórias, da família do espanhol, me foram contadas pela minha tia-avó Eliza Gural, que foi babá dos filhos do Chico Serrador.

Em 1907, Curitiba já estava com mais cinemas instalados. A visão do pioneiro fez com que procurasse maior quantidade de espectadores e então nada melhor que São Paulo para se instalar, onde fundou o Cine Bijou, seguido por mais quatro cinemas. Na sequência abriu salas em Campinas e Santos. Três anos depois, em 1910, montava o seu primeiro cinema no Rio de Janeiro, o Chantecler. Em 1922, começou a criar mais cinemas no centro do Rio, o que tornaria o local conhecido como a famosa Cinelândia Carioca. Nesta ocasião já possuía a Empresa Brasil de Filmes, que era distribuidora para os mais diversos cinemas do país. A mesma também era conhecida como Circuito Serrador. Francisco Serrador Carbonell, dono de fortuna fabulosa, morreu no Rio de Janeiro em março de 1941.

Era comentário corrente que o motivo causador da retirada do Chico Serrador de Curitiba se prendeu ao fato de que ele explorava o jogo do bicho, junto com seu sócio Laffite, e a firma deles, que constava ser agência de mensagens, nada mais era do que uma banca do mais famoso jogo de azar brasileiro. Consta que a Baronesa do Serro Azul perdeu a sua fortuna jogando na borboleta, além de ser explorada por pseudoespíritas na tentativa de se comunicar com seu marido assassinado na Serra do Mar, em maio de 1894.

No próximo domingo, a Nostalgia prossegue contando a história dos nossos cinemas durante o período que vai até o final da década de 1920, quando surge o cinema falado.

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