Domingo passado esta página abordou o anglicismo que atinge Curitiba, melhor dizendo: um modismo nacional. O tal Batel SoHo e outras frescuras que atingem a pretensa melhoria da cidade. A repercussão foi intensa, mostrando como o curitibano está alerta na preservação na identidade de sua cidadania.
Vamos dar um mergulho no passado para ver as influências estrangeiras que atingiram Curitiba no final do século dezenove e começo do vinte. De início temos a imigração germânica, que em meados dos anos de 1800 foi tirando a cidade do ambiente colonial português. Depois vieram os italianos e polacos, que, em princípio, pouco influenciaram no modo de vida curitibano por viverem blindados em suas colônias. Somente com o correr dos anos iriam se integrando paulatinamente na comunidade, sendo os polacos mais refratários em se agregar.
Com a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, muitos engenheiros estrangeiros se estabeleceram na capital e, com seus conhecimentos, colaboraram nas mudanças do paisagismo arquitetônico e urbanístico de Curitiba. Por ocasião da emancipação e criação do estado do Paraná, a presença de engenheiros franceses se fazia presente. No quarto final do século dezenove, ergue-se a Catedral na Praça Tiradentes. Projeto gótico-romano atribuído a Afonse Conde Du Plat, arquiteto francês. A obra foi erigida por alemães.
Foi, entretanto, no início do século passado que a influência do francesismo se estabeleceu em Curitiba. A língua francesa era o idioma estrangeiro obrigatório nas escolas, o Colégio Cajuru, dirigido por freiras francesas, se estabelecia em 1906. No mesmo ano foi criado o Colégio Sion, também dirigido por religiosas vindas da França.
A Curitiba à la francesa perdurou até o final da Segunda Guerra Mundial, quando a influência norte-americana começou a sobrepujar os costumes culturais na cidade. A influência da França em nossos costumes foi deveras notável. Em maio de 1916, Alberto Santos Dumont visitou Curitiba e, na recepção que o presidente do estado, Afonso Camargo, ofereceu ao ilustre personagem em sua residência, somente foi falado o idioma francês.
Em 1913, o prefeito Cândido de Abreu estava transformando o Passeio Público e tinha um problema quanto ao projeto que se faria ao portão de entrada do parque. A solução foi encontrada em uma foto editada na revista Ilustração Brasileira daquele ano. O portão do Cimitière des Chiens, construído em 1899 em Asnières-sur-Seine, em Paris, foi escolhido como modelo a ser copiado pelo arquiteto da Companhia de Melhoramentos de Curitiba Eduardo Fernando Chaves, o Chaveco.
Outra obra copiada da França foi o castelo construído no Batel pelo empresário Luiz Guimarães. O mesmo arquiteto Eduardo Chaves foi mandado à França para observar e copiar um dos castelos que empolgaram o empresário. A obra foi construída durante a segunda metade da década 1920. Foi inaugurada como uma grande festa de gala em 1928. Muita coisa que decorou o castelo foi importada da França. Na época, foi a residência mais luxuosa construída no Brasil.
A última intervenção de grande porte que Curitiba sofreria aconteceu em 1943 com a entrega do célebre Plano Agache, que iria implantar o aspecto urbano e paisagístico da cidade. Muitos deles ainda existem, como a localização do Centro Cívico. O plano do urbanista francês Alfred Agache foi executado, em parte, até o início da década de 1960. Essa seria a derradeira influência francesa no aspecto urbano de Curitiba.
A viagem da Nostalgia pela velha Curitiba à la francesa mostra apenas uma parte da influência que tanto a cidade como seus habitantes sentiram por mais de meio século, patrocinada por aquela cultura europeia. Ainda hoje, principalmente por certos arquitetos, muita coisa é projetada e comentada com os lábios fazendo biquinho.