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Em 1939, vemos a Rua Buenos Aires, em frente do Estádio Joaquim Américo, em dia de jogo do Atlético, com a presença de vários automóveis | Acervo Cid Destefani
Em 1939, vemos a Rua Buenos Aires, em frente do Estádio Joaquim Américo, em dia de jogo do Atlético, com a presença de vários automóveis| Foto: Acervo Cid Destefani
  • Loja de revenda Ford na Praça Osório esquina com a Rua Comendador Araújo, na década de 1920
  • O volume de automóveis, todos importados, já lotava o local de estacionamento na Praça Tiradentes em 1958
  • Em 1959, as últimas carroças de colonas ainda partem de Santa Felicidade para vender seus produtos pelas ruas de Curitiba
  • O povão fazendo fila para pegar os bondes na Praça Zacarias, em agosto de 1949
  • Francisco Fido Fontana com o primeiro automóvel de Curitiba, em 1903. Como passageiro, o caricaturista Mário de Barros, o Heronio

Quem está acostumado a só andar de automóvel pela cidade, aqueles que para ir até a padaria da esquina usam o carro, pouco percebe as mudanças que acontecem na paisagem urbana. Tirando fora, é claro, as alterações ocorridas nas pistas de rolamento. O cuidado com o trânsito obriga quem está dirigindo a ficar de olho nos perigos que as ruas oferecem; já quem anda a pé vê e memoriza detalhes e modificações no ambiente.

Em um passado não muito distante, andar a pé era de certa forma um prazer. Lembro sempre de um amigo já falecido, o Ernani Zanetti: ele não usava condução para ir aos mais diversos pontos da cidade, dirigia-se aos seus destinos sempre caminhando. Nome de rua era com ele mesmo. Era um verdadeiro pau de enchente, por onde passava ia parando para um papinho rápido, um cumprimento alegre ou mesmo um breve aceno. Conhecia todo mundo e todo mundo o saudava. Olá! Bom dia! Boa tarde! Os mais íntimos o tratavam por Italiano, outros pelo sobrenome. E assim ia caminhando o Ernani.

Lembro do velho amigo, principalmente quando vejo pessoas que moram numa mesma quadra e até num mesmo prédio sem jamais conhecer um ao outro. Na rua então nem se fala, somos uma multidão de estranhos. Muito raro alguém que use como condução um coletivo, sempre as mesmas horas para ir e vir, cumprimente seu companheiro de todos os dias, quer esteja esperando no ponto de ônibus ou dentro do próprio. No máximo tem a frase: "Somos conhecidos de vista".

Neste ano o automóvel está fazendo 110 anos que rodou pela primeira vez em Curitiba, introduzido pelo ervateiro Francisco Fido Fontana, em 1903. Ter, em pouco tempo, um automóvel era o sonho de todo mundo na cidade, coisa que só os fartamente abonados financeiramente conseguiam. Desfilar com um carango pelas ruas era importante, sinal de que o chofer estava bem de vida. Significava status. Ainda hoje é assim, até mais acentuado, o cartaz de quem está na boleia é ser o cara da grana.

A cidade cresceu, os bairros ficaram cada vez mais longe e andar a pé já não tem aquela poesia dos passeios de antigamente, sendo inclusive uma atitude perigosa, em razão de assaltos, abordagens indesejadas e mesmo até de acontecer um atropelamento. Antes de surgir por aqui o automóvel, já existiam as bicicletas como transporte individual, ou então as caleças, charretes e carroças para levar as pessoas de um ponto a outro.

Em Curitiba, a primeira condução coletiva apareceu em 1887 com a inauguração dos bondes de mulas. Até então as carroças dos colonos dominavam as ruas lamacentas da cidade. Com a estrada de ferro, inaugurada em 1885, surgiram os carroceiros que transportavam cargas entre a estação e as casas comerciais. Os primeiros caminhões foram adquiridos pela prefeitura em 1913, assim como o primeiro carro de bombeiros. Daí para frente, os veículos movidos a motores de explosão engataram suas marchas pelas ruas de Curitiba, ruas que hoje já não estão comportando o número crescente de automóveis.

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