Quem transita pela Praça Osório nem imagina quantas histórias curitibanas ali aconteceram, quantas lendas foram criadas ou, então, quantas vezes a prefeitura mexeu e remexeu no ambiente desde 1904, quando o ambiente foi urbanizado. A Osório foi por muito tempo a porta de entrada para o centro da cidade: a passagem que levava todo o movimento para a rua principal, a XV de Novembro.
Porta de entrada e de saída. Quem estava no centro se dirigia através dela para a Rua do Mato Grosso, atual Comendador Araújo, com destino aos arrabaldes do Batel e do Seminário ou, então, em viagem aos Campos Gerais. Em 1914 ela recebeu outra reforma, quem sabe a mais importante. Os bondinhos de mulas deixaram de circular pelo seu centro, foram instalados um coreto, um relógio e, em seu centro, construiu-se um repuxo elevado, a vegetação foi toda replantada com mudas arbóreas, que, com o tempo, se transformaram em gigantescas árvores, as quais, em 1971, foram eliminadas.
O coreto serviu durante anos para as retretas de bandas militares; e o relógio funcionava mal, a maior parte do tempo parado, peça que não adiantava nada. O repuxo, adornado com esculturas de sereias, sempre atraiu a piazada para se refrescarem em tempos de verão. Era usado como piscina, na década de 1920, pelos filhos do presidente Afonso Camargo, cuja residência ficava numa das esquinas da praça.
Com o tempo, o coreto enferrujou e foi demolido; o relógio mudou de formas e, finalmente, foi transferido de lugar para que nele coubessem algumas placas alusivas à vaidade do prefeito que realizou a "obra". O repuxo, ah! O repuxo! Esse mudou várias vezes, antes elevado, foi colocado abaixo do nível do solo; outra vez mexido, suas esculturas foram elevadas e teve o seu interior recoberto de pastilhas azulejadas. Entretanto, não perdeu a sua função maior: a molecada continua usando-o como piscina.
Os acontecimentos surgiam e se desenvolviam na Praça Osório e em seu entorno; os bares mais famosos da cidade estavam por ali; o maior edifício de Curitiba foi construído em uma de suas esquinas, o Edifício Garcez, em 1930. O anúncio luminoso da Caixa Econômica marcou época na embocadura da Avenida Luiz Xavier; os fotógrafos lambe-lambe retratavam as crianças montadas no cavalinho de pau e a marmanjada com a cara na janela do avião pintado numa tela de lona.
A onça morta na Praça Osório causou sensação na cidade naquele dia 21 de outubro de 1962. Foi isso mesmo: uma onça-pintada estava, morta, na Praça Osório. A notícia correu pela cidade que nem rastilho de pólvora. Que barbaridade! Como é que foi aparecer tal bicho no Centro de Curitiba? A história mirabolante foi comentada em tudo quanto é boteco e salão de beleza, onde quer que se reunissem pescadores, caçadores e outros mentirosos.
Era onça mesmo! Eu mesmo a vi, mortinha da Silva! Afirmava-se em toda a Curitiba, do Portão ao Bacacheri, do Capanema ao Bigorrilho. Quem duvidasse podia ver a fotografia do bicharão nos jornais do dia seguinte. Eta, Curitiba velha de guerra! As histórias verdadeiras vão sendo distorcidas com o passar do tempo e acabam virando lendas. A história da onça morta na Praça Osório é uma delas. Vamos ao fato verdadeiro.
O lavrador Sezinando Armstrong, morador na fazenda Taquari, de propriedade de Flávio Ribeiro e que ficava às margens da antiga BR-2, matou a onça que estava dizimando o gado da fazenda. Com a onça morta nada melhor para exibi-la do que a capital. Tratou de trazer o seu troféu para exibi-lo em praça pública, para tanto contou com a ajuda de dois patrulheiros da Polícia Rodoviária, que, com seu veículo, transportaram o caçador e a dita onça. O local escolhido para a exibição foi a Praça Osório. Assim como surgiram, tanto a onça como o seu algoz, desapareceram. Ficou, entretanto, a lenda da onça morta na Praça Osório.