Desde o meu tempo de piá, já escutei milhares de histórias sobre a minha terra, esta Curitiba velha de guerra. Histórias e lendas. O pessoal aqui da terrinha não gosta de perder tempo e, como sempre, quem conta um conto aumenta um ponto. Segundo o dito popular, o mês de agosto sempre foi olhado como o mês do mau olhado, mês do desgosto, mês de cachorro louco. Pura lenda. Ainda bem que agosto terminou, não sem antes proporcionar duas encrencas: o portal do "baca-chérie" e a taxação de uma tal de Ítala Nandi de que aqui somos todos fascistas. Anauê!
O populacho prefere sempre as lendas, as histórias fantasiosas, aos fatos verdadeiros. Preferem a lenda do "pirata Zulmiro" a aceitar que os túneis do bairro das Mercês não faziam parte da presença daquele imaginário inglês flibusteiro, e sim de um depósito de doentes terminais atacados pela lepra. Lendas mais diversas, a milagrosa Maria Bueno, que fora uma mulher permissiva e que teve seu fim nas mãos do amante ciumento, que a assassinou. Bem mais recente, a novela criada por um policial sobre a loira fantasma. Vivemos, portanto, dominados mais pelo imaginário do cidadão prosaico do que pelas ocorrências reais.
Mês de agosto terminou, mas, como sempre, deixou ocorrências extravagantes que nos fazem acreditar no corriqueiro juízo de que nos falta mesmo é prudência ao examinar os acontecimentos. Sabemos desde criancinha, e lá se vão mais de sessenta anos, que, por exemplo, a floração de certas árvores e arbustos não acontecem na primavera, mas sim bem antes. Neste caso, estão as floradas das azáleas, que muitos preferem chamar de azaléias, e dos ipês-amarelos. As primeiras começam a desabrochar no final de julho e já os ipês devem ter suas flores entre os dias 1.º e 15 de agosto. Todo ano é a mesma charanga dos entendidos em ecologia: estão florindo porque o tempo está mudando! É o efeito estufa!
Lembro de um velho caboclo que, ao ouvir algo fora de sintonia, dizia: "Paremo! Vamo começá do começo!" Para começar do começo deixamos de lado os ipês florindo, como estão, na época certa e damos um pulo até o bairro do Bacacheri. Um dos nossos edis sempre alerta dentro da Câmara Municipal resolveu criar um portal para aquele bairro baseando-se numa fábula que ventila o nome da localidade. Um portal, nesta dita e conhecida cidade sem portas. Uma fanfarronada tola criada por algum gaiato que aventou o nome de Bacacheri ter nascido porque um imigrante francês procurava uma vaca de sua propriedade, que havia sumido, sempre perguntando se alguém tinha visto sua "Baca chérie".
Muito bem! "Paremo de brincadeira!" O nome Bacacheri já existia muito antes de qualquer imigração européia vir a Curitiba, a primeira foi a alemã em 1829. O próprio Auguste de Saint-Hilaire, sábio francês que por aqui passou em 1820, chegou a citar que o nome do bairro se devia a derivação das palavras guaranis: vacá e ciri, que deveriam significar: vaca que escorregou. Quem escorregou foi o atinado botânico francês. No dicionário histórico de Ermelino Agostinho de Leão, encontramos o seguinte: "Bacachery. Rio que constitue uma das cabeceiras do rio Iguassú. Banha o bairro do mesmo nome. É atravessado pela estrada da Graciosa a 9 kilometros de Curityba. A palavra é de língua tupi e significa rio pequeno."
Quando os colonos franceses vieram para Curitiba, oriundos da Argélia, se instalaram entre o Alto do Cabral e o Bacacheri em 1869. O bairro já era conhecido há muitos anos pelo nome que tem e, portanto, não poderia ter sido um desses imigrantes que teria dado o nome do local procurando a tal "baca chérie", coisa inventada por um trocista, sem ter muita coisa que fazer.
Sobre histórias de vacas, lembro de uma, que, segundo a tradição, aconteceu entre o jornalista Barros Cassal e um deputado no interior do antigo Bar e Café Palácio, na Rua Barão do Rio Branco. O cronista era conhecidíssimo na cidade pelo espaço que assinava com o título: A ferro e fogo! Isto lá pelos idos da década de 1940. O colunista e o político entraram em discussão e a certa altura Cassal saiu com esta: "Você faz parte da manjedoura, aonde ainda não chegou o Salvador, lá mesmo só tem burro e vaca de presépio e do lado de fora a carneirada!" Não sabemos como terminou a altercação entre o político e o jornalista, mas sabe-se que esse último se referia ao prédio da Assembléia e seus ocupantes, prédio este pertencente, hoje, à Câmara de Vereadores.
Para ilustrar a Nostalgia de hoje, separamos quatro fotos ligadas ao bairro do Bacacheri.
Na primeira, aparece um aspecto aéreo do Graciosa Country Clube em 1935, o terreno vizinho e acima era ocupado pela colônia Argelina.
A segunda imagem mostra a tropa do 5.º Regimento de Aviação do Exército, também conhecido como a Base Aérea do Bacacheri, pronta para o desfile de Sete de Setembro, no centro de Curitiba, em 1938.
A terceira foto apresenta o bonde com destino ao bairro do Bacacheri, tombado ainda no Alto da Glória por estudantes da Escola Agronômica pelo motivo da subida em um tostão no preço da passagem, em 1945.
Na quarta foto, aparece, ainda no Juvevê, o Parque Graciosa com o seu famoso salão de festas conhecido como Barcarola.
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