Serrando madeira no mato – 1900| Foto:
Vila com pinhal ao fundo – 1905
Inauguração da Estação de Jaguariaíva – 1909
Colonos construindo igreja – Prudentópolis
Roça na Colônia Murici – 1930
Lenheiro e sua carroça – 1945

Na semana que passou aconteceu um grande tumulto no bairro da Fazendinha. Um grupo de pessoas havia invadido uma grande área de terreno, reclamando para si lotes para construírem suas casas. A Justiça ordenou a desocupação da invasão, o que foi executado pela Polícia Militar e que vem dando farto noticiário na imprensa.

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Curitiba cresceu fora do controle nos últimos 30 anos, apanhada por imensa migração de adventícios vindos dos mais diversos cantões do Brasil para se instalar na tão propalada terceira melhor cidade do mundo para se viver. O resultado aí está: uma cidade cercada por favelas e cuja miséria se faz presente e pela sua precariedade ajuíza sobre o receio da falta de segurança de toda uma população.

Faço um recuo no tempo; retorno a minha infância e juventude quando Curitiba oscilou entre os 80 mil e 120 mil habitantes, isto na década de 1940 e entrando nos primeiros anos da década 1950. Nesta época, estava se findando o ciclo da erva-mate e ocorria o auge da madeira. Em todos os bairros da cidade, as casas de madeira eram erguidas. Mesmo as mais simples como as meias-águas, pintadas com cal, realçavam no verde dos campos circundantes. Muito difícil se encontrar naquela época casebres ou barracos.

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A madeira estava por toda a parte e em abundância. Também em móveis maciços de imbuia e outras essências nobres. As tábuas de pinho – leia-se araucária – eram as mais baratas e as mais usadas nas construções e na produção de móveis. As serrarias engoliam matas inteiras de pinheiros cujas florestas começavam no pé da Serra do Mar e se estendiam às margens do Rio Paraná. O vale do Rio Iguaçu, que produzia o mate em abundância, tinha em suas vargens pinhais que pareciam inacabáveis. Mas acabou.

Durante a 2.ª Guerra, laminadoras produziam e exportavam as madeiras compensadas como suporte da indústria bélica. Antes mesmo do conflito mundial, as madeiras nobres eram exportadas em estado bruto; enormes toras de imbuia ficavam amontoadas nos cais de Antonina e Paranaguá esperando o embarque, para serem beneficiadas nos mais variados destinos estrangeiros.

Com o advento das estradas de ferro Curitiba–Paranaguá em 1885 e a São Paulo–Rio Grande em 1909, os pinhais foram devastados. Trens carregados levavam nossa madeira para São Paulo e para os portos de embarque em comboios puxados por locomotivas, que engoliam milhões de metros cúbicos de madeira para se locomoverem, isto sobre trilhos acomodados em outros milhões de dormentes também de madeira.

Na atualidade, Curitiba empobreceu quanto à sua arquitetura em madeira. Na periferia onde se localizam as favelas, encontramos construções de pequenas moradias que mais lembram as modestas habitações das paisagens nordestinas. Para rematar esta matéria sobre madeira e a procura onde morar nos tempos bicudos que atravessamos, vou usar uma frase ouvida no Bar do Maneco e dita pelo Pedro Edu Espíndola – "O negócio está tão ruim, mas tão ruim, que até o joão-de-barro foi morar na casa da sogra".

São as seguintes as fotografias que ilustram a Nostalgia de hoje: a imagem de uma família de colonos preparando a madeira com a qual deveriam construir a sua moradia. A foto é do início dos anos de 1900 no vale do Rio Iguaçu. Uma vila em formação entre vasto pinhal na região do mesmo vale, em 1905. Na terceira imagem, temos um grupo de colonos participando da construção da igreja em Prudentópolis na primeira década de 1900.

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Na seqüência, vemos a inauguração da Estação de Jaguariaíva na Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande, em 1909. Temos ainda uma roça de milho na Colônia Murici, em São José dos Pinhais, onde ainda aparecem alguns pinheiros que sobraram na paisagem, em foto de 1930. Terminamos com um vendedor de lenha picada e sua carroça, fazendo entrega na Rua Iguaçu em 1945.