A maioria das cidades possui em seu meio urbano alguma coisa que as liga ao passado e à sua própria história. Nossa Curitiba, velha de guerra, contém em seu ambiente urbano alguns desses ícones, notadamente na arquitetura. Temos a Catedral, que, além de ser o maior símbolo de religiosidade, nos leva, pela história, ao século 19, quando foi construída pela mão de obra escrava e, principalmente, pelos imigrantes alemães.
O prédio da universidade na Praça Santos Andrade foi escolhido em sufrágio popular como o símbolo de Curitiba, quer pela sua imponência arquitetônica, como também pelo que significa para a cultura da cidade e do próprio Paraná, principalmente por ser a primeira universidade criada no Brasil.
Outros destaques arquitetônicos enriquecem a urbe curitibana. Palácios, castelos e mansões ainda são preservados em favor da nossa memória visual. O centro da capital tem elementos que ajudam a resguardar lembranças de tempos idos. Exemplo notório é o nosso primeiro arranha-céu, o Edifício Garcez, construído na esquina da Avenida Luiz Xavier com a Voluntários da Pátria.
Houve época em que o prédio era considerado o terceiro maior do Brasil, só perdendo para o Edifício Martinelli, de São Paulo, e para o edifício do jornal A Noite, do Rio de Janeiro. A história do prédio inicia em 1926, quando João Moreira Garcez solicita, no dia 21 de maio, à prefeitura a devida autorização para a sua construção. Curiosamente, o prefeito era ele mesmo, cargo que exerceu de 1920 até 1928. Isto pela primeira vez, pois retornaria a ser prefeito de Curitiba entre 1937 e 1939.
Coincidentemente é em 1926 que a Avenida Luiz Xavier foi asfaltada, juntamente com a Praça Osório e a Rua Voluntários da Pátria, obras essas que foram executadas pela Companhia Construtora Nacional. Em junho de 1927, o prefeito Moreira Garcez assina o contrato com essa mesma companhia para a construção do seu edifício particular, cujo início das obras se deram em agosto do mesmo ano fato que serviu para alimentar comentários desairosos sobre sua pessoa.
A verdade é que João Moreira Garcez recorreu a empréstimos particulares para tocar sua obra. Obteve o dinheiro com Izabel Gomm e Julio Garmater, ela com fortuna oriunda da erva-mate, e ele, rico pecuarista e comerciante de carne verde.
Na construção do prédio foram empregadas toneladas de ferro e cimento da marca "Alsen" o que vinham da Alemanha. Na contenção do terreno foram usados troncos de eucalipto embebidos em óleo cru, na estrutura e nas sapatas foram usados trilhos ferroviários. Somente o subsolo ficou a 4 metros abaixo do nível da rua, tal porão cobre uma área superior a mil metros quadrados, sendo jamais utilizado.
A princípio, o prédio estava projetado para ter cinco andares. Entretanto, com o tempo foram solicitadas licenças para aumentar os níveis, último, o 8.º andar, o próprio Garcez não terminou, o que veio a acontecer somente após sua morte, em 1957. A explicação sobre o aumento paulatino da altura do Edifício Garcez era pelo fato de existir a lei de que o prédio mais alto da cidade estaria isento de impostos municipais. Em 1934 o edifício não estava pronto completamente e ainda era pedida a vistoria para o 6.º andar.