Dona Josefina, a Josepha Deren, durante a sua vida foi a lanterna de proa que nos conduzia a portos seguros. Mulher líder e extremamente religiosa, ajudou a construir igreja e sustentou os estudos de um menino seminarista. Contribuiu para causas que amparavam pobres e desafortunados de saúde: Essa era a minha Mãe!Quando comecei a vida de jornalista em 1958, para isso abandonando um emprego público que me garantiria uma gorda aposentadoria, veio a censura: Veja o que você está fazendo. No futuro não vá se arrepender. De fato não me arrependo, faço o que gosto há mais de 52 anos. E depois tem mais: "Nem os deuses conseguem reformar o passado", segundo provérbio da antiga Grécia.Olhe pra trás, olhe em volta e veja como Deus foi benévolo conosco! Realmente, seria um ingrato se me queixasse da vida. Entretanto, a profissão que abracei me indicava, logo no seu início, o zênite de salvador do mundo. Saía com a minha câmera registrando os erros e as mazelas para ilustrar textos, geralmente ácidos; indo vagarosamente apreendendo que tudo que estava certo ou errado fazia parte da sociedade que me aceitava com membro. No entanto, até hoje, de vez em quando, afloram eflúvios policialescos em minhas atitudes.
Hoje, Dia das Mães, vou retornar cinquenta anos ao passado. O ano é o de 1960. Fazia minhas reportagens para a então famosa Revista Panorama, o número é do mês de fevereiro daquele ano, na página 18, revejo a minha reportagem, cujo título é Crianças pobres moram à míngua. Três fotografias estouram nas quatro páginas, apoiando o texto que se segue:
"Houve um tempo em que não se via miséria nos arredores de Curitiba. Existia gente pobre, mas não miserável. Entretanto, de alguns anos para cá, a cidade começou a ser emoldurada pelos casebres, o número de pedintes cresceu tão alto quanto o custo de vida, e um rosário de criancinhas abandonadas começou a desfiar-se por Curitiba, simbolizando uma imagem indelével de nossos tempos.
A quem cabe a culpa de crianças passarem fome? De seus pais que não têm trabalho? Do governo que não lhes proporciona assistência social? A resposta não importa. Mas uma coisa é certa: as crianças precisam ser amparadas, e isto não custa muito. Bastaria que os recursos orçamentários no Paraná fossem devidamente aplicados, para que o problema se tornasse menos grave.
Lembramo-nos agora, a propósito, de uma história que se propala por aí: dizem que o diretor de um determinado departamento, necessitando viajar para a Europa, para um congresso, e não encontrando nenhuma verba disponível, utilizou-se da verba destinada à compra de leite para crianças necessitadas e atravessou o Atlântico com este dinheiro. Se esta história for verdadeira, não será difícil apontar os culpados pela situação de miséria das crianças nos arredores da Cidade Sorriso."Sem citar nomes, a reportagem causou rebuliço. A pessoa a quem a carapuça serviu quis dar explicações, que nem lhe foram pedidas. Pobre doutor, a história morreu com ele há muitos anos..
Relembrando como o passado, há meio século, pouca diferença tem com o dito "hoje em dia", mostro as três fotos que ilustraram a aludida reportagem, em fevereiro de 1960. Além de mais duas: uma delas de 1923, com os órfãos da gripe espanhola, e outra da creche, modesta, que existiu na Maternidade Victor do Amaral.
N.R.:
Esta presente Nostalgia nada tem a ver com o sentimento nostálgico que esta página expressa, mas sim com a história de nossa cidade, história que se repete com muito mais intensidade à maneira que o tempo passa.
Nem os deuses conseguem reformar o passado! Entretanto, as pessoas íntegras conseguem criar um futuro digno para todas as classes sociais!
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