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A dor de cabeça para os motorneiros era causada pela piazada que andava pendurada nas rabeiras dos bondes |
A dor de cabeça para os motorneiros era causada pela piazada que andava pendurada nas rabeiras dos bondes| Foto:
  • Bonde com carroceria fabricada em Curitiba para aproveitar os motores dos bondes belgas e americanos destroçados em acidentes
  • Bonde de mulas na Rua XV, em novembro de 1911
  • Grande Hotel e consulado italiano, na Rua XV de Novembro, tendo à frente um bonde de mulas
  • Montagem dos bondes belgas aconteceu na Praça Ouvidor Pardinho. Foto de agosto de 1912
  • Bonde americano transitando no bairro do Seminário, em 1940
  • Bondes circulando na Rua XV de Novembro. Foram retirados dali em 1927
  • Bonde Birney, ainda com sua carroceria, na antiga estação
  • A Carroceria do Birney sucateada, no pátio da Urbs
  • E o editor desta página junto à sucata do Birney

Um solerte leitor da Nostalgia manda o aviso: "Na internet existe um grande número de fotografias de bondes de Curitiba. Creio que são do seu acervo". Obviamente. Catamos, realmente, inúmeras fotos incluídas em blogs, todas com imagens de bondes e cuja maioria pertence ao acervo particular, aqui do escriba. Grande parte chupada das publicações feitas na Gazeta do Povo.

Os bondes, assim como a neve, fazem parte da fantasia dos curitibanos, mesmo para aqueles que nunca andaram de bonde ou nunca viram a neve. Na primeira esfriadela do outono, lá vem o piá perguntando: "Vô tá esfriando, será que vai nevar?" Ou diante da fotografia de um bonde – para ele igual a um dinossauro, coisa que nunca viu –, fica embatucado: "Como seria o tal bonde na realidade?"

A curiosidade sobre os bondes começou logo que desapareceram das ruas, em julho de 1952. Quem os comprou, para desmanche como ferro-velho, foi o saudoso amigo Francisco Barranco, que nunca deixou de se queixar, arrependido, em não ter conservado um de cada tipo como peça histórica. O único que sobrou ficou anos estacionado na velha estação de bondes e assim mesmo somente a carcaça, que, finalmente, foi doada à prefeitura.

O arcabouço do que já fora um bonde continuou a sua existência inglória. Já de início foi parar numa firma da região metropolitana, onde deveria ser recuperado. Meses depois, o que restava estava pior – foi depredado e completamente enferrujado. A imprensa caiu de pau. Foi devolvido em frangalhos o que restou do pobre bonde, e ficou ele abandonado no depósito da Urbs até que o sindicato dos transportes coletivos resolveu patrocinar a recuperação do que havia restado. A tal obra foi um desastre: o técnico contratado foi inventando ao bel-prazer, juntando peças que jamais pertenceram ao pobre enjeitado, criou um Frankenstein duro de se ver, de dar dó a quem conheceu aquele bonde trafegando nos bons tempos.

Em meados do mês de abril de 1981, fui procurado pelo norte-americano Allen Morrison, que estava fazendo uma pesquisa sobre bondes na América Latina. Negociamos algumas imagens em dólares, não sem antes de ouvir lamentações e pechinchas do gringo, que, em junho do mesmo ano, me escreve de Nova Iorque e de cuja carta apresento alguns trechos: "Primeiramente quero lhe agradecer mais uma vez pelas fotografias. São magníficas. São documentos raríssimos e muito importantes para mim. Foi um grande prazer encontrá-lo. Para Curitiba acho que tenho tudo que preciso. Mas suas fotografias são tão boas que não posso resistir a pedir outras."

Pois é. Esse senhor Morrison ainda conta que foi assaltado no Rio de Janeiro onde perdeu todo o equipamento, mas que as fotos adquiridas ficaram a salvo por estarem no hotel. Quanto ao: "Não posso resistir a pedir outras", me reservei o direito de respeitar a máxima de Floriano Peixoto: Confiar, desconfiando. Foi o melhor que fiz. Ah! Apenas um parêntese: mister Mor­­rison fala e escreve o português melhor que muita gente daqui.

Quando digo: "Foi o melhor que fiz", estou me referindo à parte do livro que está na internet com o título: Os Bondes de Curitiba, Paraná, Brasil, por Allen Morrison, texto traduzido ao português por Mauricio R. Ortega. Muito bem, vamos ao uso das fotos adquiridas. Consta na legenda de uma das primeiras fotos: Outra fotografia de data desconhecida, de um bonde sem número e da extensão da linha Batel para o Seminário. Desconhecendo a data, entretanto não consta a origem e traz gravado na imagem: Col. Allen Morrison. Muito bem! A data da fotografia é novembro de 1911, guarda-civil cuidando do trânsito na Rua XV de Novembro esquina com a atual Monsenhor Celso. O nome do guarda? Miguel Baby.

Na outra foto: este cartão-postal é de aproximadamente 1900 e nele vemos o bonde 5 da EFCC. O Grande Hotel era localizado na esquina das Ruas 15 de Novembro e Barão do Rio Branco. Note os homens no telhado. Brincadeira! No telhado estão as bandeiras do Brasil e da Itália, já que o dono do hotel era o cônsul italiano Gino Zanchetta, que por sinal está encostado no prédio junto com o dono da linha de bondes, outro italiano, Santiago Colle. A data da foto é 1906.

E por aí, com chute daqui, pelotaço dali, vão indo as legendas e até mesmo certos trechos do texto. O autor se preocupou em grafar seu nome em todas as fotos antigas de bondes adquiridas de minhas mãos. O único crédito que deu em meu nome é de uma foto feita por Arthur Wischral, o que bem mostra a seriedade com que tratou as fotografias magníficas, documentos raríssimos, tão boas que não pode resistir a pedir outras. Certo estava o marechal Floriano, meu guru. Confio, desconfiando.

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