Não existe curitibano com mais de 20 anos que não conheça o Passeio Público o famoso parque incrustado na área central da cidade, praticamente desde a sua instalação no dia 2 de maio de 1886, pelo então presidente da província Alfredo dEscragnolle Taunay. Nesses seus 127 anos de existência, aquele ambiente sofreu várias mudanças, sua história muitas vezes virou lenda e sempre teve ligação com o lazer e com a vida intelectual de Curitiba. Atualmente, o Passeio Público é uma lástima.
Na sua história havia dois equívocos. O primeiro era quanto à data de sua fundação, que motivado por pesquisa errônea apontava o mês de agosto como o acontecido da sua fundação. Fato que aqui pela Gazeta do Povo foi desmentido há mais de trinta anos. O segundo equívoco estava na tradição oral de que o Passeio Público fora doado pelo ervateiro Francisco Face Fontana, fato completamente desmentido haja vista que o terreno maior pertencia a uma viúva Hauer, uma parte menor a uma ex-escrava de Nhá Laura Borges e o grande banhado formado pelo Rio Belém pertencia à província.
Durante sua existência, desde a fundação até a atualidade, aquele espaço sofreu inúmeras intervenções por parte da prefeitura, tendo inclusive perdido boa parte de seu território para a instalação da sede do Círculo Militar e, mais tarde, outra parte para a construção da Casa do Estudante Universitário. A UPE mantinha ali o seu restaurante para estudantes em enorme construção de madeira, devorada por um incêndio no final da década de 1950.
Em meados da década de 1960, o prefeito Ivo Arzua remodelou completamente o Passeio Público, retirando dos seus lagos a água que era servida pelo Rio Belém, já totalmente poluído por resíduos despejados do curtume instalado no bairro de São Lourenço. Muita coisa surgiu e outras tantas desapareceram da paisagem daquele parque durante a sua existência. A antiga estação de barcos, que era de madeira, foi substituída por uma de alvenaria, em formato circular, em cujo interior funcionou por bom tempo nas noites curitibanas a Boate Tropical, tendo apenso o restaurante Lá no Pasquale.
João de Pasquale, durante quase trinta anos, foi quem deu vida ao Passeio. Seu bar e restaurante era frequentado por jornalistas, principalmente os da crônica esportiva. À noite, em certos dias da semana, ali se reuniam frequentadores do antigo bar que ele possuiu na região do Rebouças atual. Esse pessoal participava de um jantar adrede programado seguido de boas partidas de pif-paf. O grande movimento de público ficava por conta dos sábados e domingos, isso quando não chovia.
Já, de longo tempo, era costume aos domingos, tendo pela manhã a frequência das famílias acompanhando suas crianças para um passeio regado a sorvetes, refrigerantes, pipocas e algodão-doce. Já à tarde, a frequência mudava, eram as empregadas domésticas e soldados do Exército que ali vinham se divertir. A presença do público aos sábados começou a ser notada com mais intensidade a partir de 1970, com o almoço tendo como carro-chefe uma suculenta feijoada que deitou fama. Com a apresentação de alguma banda jovem, primeiro no próprio recinto e, outras vezes, no dito palco flutuante, a juventude começou a marcar presença. Outra atração para a frequência era a presença do prefeito Lerner e de seu staff formado por um séquito de arquitetos que, juntos ao chefe, se deliciavam com os famosos bolinhos de arroz da dona Isaura.
Não tendo maior espaço para alongar esta dissertação sobre o Passeio Público de Curitiba, logo dizemos que existe um movimento para reativar a presença do povo no primeiro e mais antigo parque da cidade, em razão do seu esvaziamento motivado por inúmeros fatos baseados no convívio social, que não aceita certas misturanças, o que infelizmente é pura verdade. Se existe receita para o Passeio voltar a ser o que já foi? Talvez exista; a pergunta fica em onde arranjar outro João de Pasquale para administrar? Ou então outra cozinha pilotada por uma nova dona Isaura? O comparecimento dos antigos habitués? Essa não vai dar! A maioria já está do lado de lá, ou não quer mais nada com coisas passadas. Ah! Só um lembrete: não existe mais espaço para estacionar os carros como nos bons tempos do Lá no Pasquale.