Uma reunião de gente velha não pode dar em outra coisa: uma viagem pela memória de cada um. Um volteio aos velhos tempos, uma turnê pelos anos sem reumatismos; épocas em que éramos lépidos e, principalmente, curiosos, quando um trevo de quatro folhas achado ao léu significava que teríamos muita sorte. Hoje abrimos o nosso livro da vida e lá encontramos, entre as páginas amareladas, o trifólio seco, mumificado pelo tempo ali abandonado, esquecido por quem o encontrou.
Os anos correram céleres, qual locomotiva fumegante que, vezes parando nas estações, outras sem tomar conhecimento das ocasiões, passando até sem lembrar-se de apitar, levando inexoravelmente seus passageiros até o fim da linha. Feliz de quem faz essa viagem em etapas, e completa toda ela, sem nunca esquecer pelo que passou, nas boas e más estações da vida.
Na hora em que montava esta página, comecei a manusear fotografias antigas da nossa Serra do Mar e do Litoral. Estanquei a manipulação sobre algumas imagens, que me levaram à juventude dos 20 anos. Era 1956, após dar baixa do Serviço Militar consegui trabalho como fiscal da Receita Estadual. Com 21, já me encontrava trabalhando, a pedido, em Paranaguá. Ali na Rua da Praia, tendo à frente um frondoso tamarindeiro e o então Rio Itiberê, sem poluição, onde tantas vezes após o expediente nadei.
Com 22 anos, fui exonerado por abandono do cargo; então já me encontrava exercendo as funções de repórter fotográfico aqui na Gazeta do Povo. Retornei inúmeras vezes a Paranaguá, tanto a passeio como a serviço. Agora, em recente visita, comecei a fazer os comparativos não tanto no aspecto físico da urbe, porém mais fixado na vivência humana. Passado mais de meio século, entre muitos tipos com os quais convivi, além de não mais existirem, ninguém mais se recorda. Outros são meras lembranças.
O Rio Itiberê está com as águas corrompidas, o pé de tamarindo definhou, o Mercado não é mais o mesmo, a tagarelice na fala cantada dos pescadores é rara de ser ouvida, pelas ruas transita uma multidão de forasteiros; ao Valadares agora se vai a pé pela ponte sobre o Itiberê. Acredito até que na ilha dos fandangueiros não mais soem as batidas dos tamancos. De recordação daquela terra especialista em apelidos, sobrou o meu, angariado quando, na minha chegada, atravessei a praça na noite de um domingo: Chegou o Al Capone!
Aos leitores que conseguiram acompanhar esse meu papo nostálgico, ofereço as fotos que se seguem, dos também velhos e bons tempos da Rua da Praia da Paranaguá de antigamente.
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