| Foto: Mauro Campos

Circular pela cidade é uma das minhas distrações favoritas. Gosto de ver o que sobrou do meu tempo, assim como as novidades que são introduzidas a todo instante, principalmente no centro. Um cafezinho aqui, um papinho ali e sempre colhendo imagens e impressões.

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Lugar obrigatório para esse tipo de freqüência é sem dúvida a Avenida Luiz Xavier, uma rua tão curta que já foi apelidada, não se sabe por quem, como a menor avenida do mundo. Nos bons tempos dos cinemas era conhecida como Cinelândia, alguns chegaram a nomeá-la como Largo da M... em alusão ao mau cheiro exalado pelas bocas de lobo.

Na década de 1960 passou a ser referência de um grupo de freqüentadores como A Boca, sendo nomeada logo em seguida pelo engenheiro Abrão Fuchs como Boca Maldita, sendo ele, até hoje, um dos mais assíduos freqüentadores daquele espaço.

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A Luiz Xavier foi rebatizada de João Pessoa na revolução de 1930 e com este nome ficou por mais de 30 anos. Na década de 1960 foi uma luta fazer voltar o nome do curitibano ilustre, que, como prefeito, urbanizou aquele ambiente. Hoje ela é definitivamente Luiz Xavier. Definitivamente? Coisa nenhuma! Alguns chegam até chamá-la de Rua das Flores.

O destino daquele espaço da urbe curitibana é exatamente não ter identidade. Cada cidadão que ali transita fica intrigado e procura entre as rodinhas formadas tentar reconhecer quem seriam os maledicentes da tal Boca Maldita. Para saber, vai ter que ter acesso a um daqueles círculos. Para tanto, vai ter que enfrentar antes as demais espécies que ali fazem seu ponto, como os mordedores, os marroqueiros vendedores de jóias fajutas e mais um sem-número de espertinhos que vivem dando facadas e trambicando.

No dia que a prefeitura comemorou o aniversário da cidade, a Luiz Xavier estava fervendo, apesar da própria edilidade estar fazendo a festa na Praça Santos Andrade em frente a nossa Universidade Federal, cujo prédio foi muito bem escolhido como símbolo de Curitiba e de nossa cultura. A avenida, como dissemos, estava fervendo.

Um palco enorme montado em frente à Praça Osório fazia seus testes de som. Uma barulheira infernal, com decibéis para deixar surdo qualquer mortal. De longe se podia vislumbrar alguns cartazes com os dísticos como: Fé, Curitiba ou Curitiba é de Jesus. Uma esbórnia gigantesca.

Alguns passos adiante, uma dupla fantasiada de anjos em trajes celestiais brancos e com os rostos cobertos de maquiagem branca, além de portar um par de asas de bom tamanho cada um – asas essas também de alvura angelical, como manda o figurino. Na frente da dupla um recipiente em que os passantes colocavam moedas, devidamente agradecidas pela parelha de querubins.

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Amigos leitores, depois de ficar um bom tempo observando estes e outros acontecimentos que desfilavam naqueles cem metros de via pública, cheguei a conclusão que tal espaço não faz jus a todos apelidos que lhe deram até hoje. Tive a plena certeza que possuímos um dos melhores, senão o melhor Pátio dos Milagres do mundo.

Aos apreciadores desta página apresentamos algumas fotos da Avenida Luiz Xavier em épocas diversas.

Vamos começar com a fotografia feita em 1.º de agosto de 1946 quando era conhecida como a Cinelândia. Temos os carros estacionados em frente aos cinemas Odeon e Ópera.

Na segunda imagem vemos um desfile de calouros em março de 1959.

A fotografia número três mostra uma procissão religiosa com crianças vestidas de anjos em 8 de setembro de 1949.

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No começo da Avenida, junto à Praça Osório, a quarta foto mostra o movimento de público embaixo do famoso placar luminoso da Caixa Econômica em 1949, onde as moedas corriam para dentro de um cofre.

Na quinta foto aparece o obelisco da Boca, cercado de vasos decorativos, em março de 1993.

A sexta imagem, mais recente, apresenta uma reunião religiosa em frente ao palco adrede preparado, tendo acima a presença do abrigo usado pelo jovem faquir jejuador.

Fechamos com a sétima imagem em que vemos pendurado no poste um solitário cartaz enaltecendo um movimento homossexual. São estes alguns esparsos flagrantes do nosso Pátio dos Milagres.