Foi o que aconteceu no último dia 6, quarta-feira passada, uma verdadeira agitação no momento em que as máquinas da prefeitura chegaram para abrir a comentada rua no meio da Praça Miguel Couto, mais conhecida como a Pracinha do Batel. Os habitantes da região que são contra a execução da obra se postaram em defesa daquele logradouro.
Postaram-se em defesa dos equipamentos e das árvores, atrasando o trabalho o tempo suficiente para que chegasse a liminar embargando a obra. De posse da liminar e mais o documento que comprova estar a dita pracinha em processo de tombamento, pelo seu valor na memória histórica do bairro, as obras cessaram, ficando no local alguns moradores do Batel. Na ocasião, os que são contra a mutilação estavam em maioria e uns poucos a favor da abertura.
O que se seguiu foram discussões acaloradas, tanto de um lado como de outro. Duas senhoras, irmãs, e mais um bom contingente de usuários discutiam suas razões e apresentavam argumentos pela não-realização da obra. Alguém dizia: "A rua tem que ser aberta, esta praça não tem policiamento e é um antro de marginais!" Outro respondia: "É antro de marginais porque tiraram o módulo da polícia que tinha aqui!"
"Vai acontecer um acidente atrás do outro!" "Não vai, vão colocar sinaleiros e uma lombada no meio!" E haja discussão. Alguém defendia a abertura, e logo vinha o repique: "O senhor é pau mandado, está aqui para defender interesse do pessoal do shopping!" Outro retrucava: "Não é só isso, ele pretende explorar o tal café que a turma da prefeitura diz que vai instalar! Interesseiro!"
As discussões seguiram-se manhã afora, com o pessoal dos jornais, rádios e televisões colhendo excelente material para seus noticiários. Um grupinho a favor se juntava de um lado, os contra estavam em outro. Repentinamente, uma senhora já idosa ia dizendo: "Tem que abrir, moramos aí no Sbravatti e mal conseguimos chegar com os carros!" Um curioso pergunta: "Puxa, dona!, quantos automóveis a senhora tem?" Resposta curta e grossa: "Nós temos três!"
O problema criado em torno do abre-não-abre a rua no meio da Praça Miguel Couto vai dar ainda muito pano pra manga. Em todo o bairro do Batel, há muitas casas que foram tombadas no intuito de preservar a história e a própria memória, coisa que para alguns não tem valor. Dois exemplos magníficos nesta preservação são os castelos intervizinhos, um que pertenceu ao empresário Luiz Guimarães e o outro de Hildebrando de Araújo. A casa que pertenceu ao ervateiro Henry Gomm foi transferida depois de tombada, coisa que não podia acontecer, sendo colocada no local que interfere na abertura de duas ruas, a Bruno Filgueira e a continuação da Alameda D. Pedro II.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco! Propriedades particulares podem ser tombadas, quase que só com uma canetada. Agora, um bem público como uma praça não pode.
Como jornalista que sempre fui, devo ouvir ambas as partes. Esse sempre fui está completando cinqüenta anos, mas tem outra coisa que pesa um pouco mais: faz setenta e um anos que nasci no bairro do Batel, local onde moro até hoje, e como curitibano tenho de manifestar a minha opinião: sou peremptoriamente contra a abertura e a mutilação da nossa "Pracinha do Batel", por ser a mesma uma parte importante da história do bairro e de sua memória urbana!
Vamos apresentar a seguir uma seqüência de fotos antigas e atuais da Praça Miguel Couto e do seu entorno. Começamos com a imagem do bondinho de mulas parado no ponto final do Batel, ao lado da pracinha ainda não urbanizada. Os passageiros esperam a troca da parelha de animais que os levaria até o ponto final do bairro do Seminário, a foto é de 1905.
A segunda foto mostra a Praça Miguel Couto no ano de 1939, quando recebeu melhoramentos, incluindo aí o arco imitando uma pérgula. Ao fundo, o Liceu Rio Branco, que funcionou nas instalações do antigo Engenho Tibagy, que pertenceu ao Barão do Serro Azul; ao lado, o bonde elétrico indo para o Seminário.
Na seqüência, vemos uma foto feita ainda na administração anterior, a de Beto Richa, quando operários da prefeitura recompunham a balaustrada do arco que havia sido mutilada. Essa recomposição aconteceu graças à denúncia feita aqui na Nostalgia sobre a mutilação, que havia sido executada pela própria prefeitura.
Fechamos as imagens mostrando a casa existente na Rua Gonçalves Dias e que pertenceu ao conjunto do Engenho Tibagy. Nesse local, funcionava o escritório do Barão do Serro Azul.
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