Desenho figurativo que bem pode lembrar o arauto conclamando a reunião dos fantasmas| Foto:
Busto da professora Julia Wanderley vandalizado. A professora dá o nome ao colégio onde está a obra. A sua cara quebrada bem retrata a imagem do ensino ministrado por conta do estado
Fotografia da Capela de São Francisco, em 1910. Fazia parte das conhecidas ruínas da igreja inacabada. Foi demolida entre 1912-14
Foto da primeira parte construída da Universidade do Paraná, símbolo da cidade de Curitiba. O prédio atual vai receber reformas, talvez com intenções de anular o título e passá-lo, quem sabe, para uma obra do Lerner. A foto é de 1918
Já que a Nostalgia de hoje versa sobre coisas de outro mundo e crendices, nada como lembrar o monge João Maria, figura reverenciada no Sul do Paraná e em Santa Catarina
Ilustração de uma reunião regada a champanha, coisa típica da festa de ano-novo
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A última vez que eles se reuniram foi na entrada de 1993, quando vaticinaram sobre o que seriam os acontecimentos do ano que se iniciava, quando mudava o prefeito de Curitiba cujo eleito pretendia fazer a comemoração dos 300 anos.

Agora eles estão de volta, os fantasmas mais importantes da cidade saem de suas tumbas para se reunirem nas Ruínas do Alto do São Francisco, num conclave do outro mundo, para vaticinarem o futuro num sabbath abaixo da lua minguante perto da meia-noite de 31, véspera do primeiro dia de 2011.

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Ali, estão todas as assombrações que em vida percorreram as velhas ruas e praças curitibanas. Políticos, eclesiásticos, comerciantes, intelectuais, profissionais, serviçais e outros mais. Todos em trajes típicos dos espectros, cobertos por largos capuzes e longas batas. Aos poucos, vão se acomodando junto às paredes do templo inacabado.

Uma voz rouca carregada de erres se faz ouvir, o espectro helênico de Dario Veloso cercado por suas virginais musas, agora todas em trajes gregos, admiram o mestre que apregoa, em vibrante discurso, a necessidade de uma democracia espartana e transparente de parte dos governantes que tomam posse no despontar do dia.

Apartes surgem de todos os lados. Palpites para melhorar a vida dos que ainda estão vivos. As assombrações mais afastadas fazem a torcida composta pelos tipos populares. – Curitiba precisa de mais redes de esgotos!, grita o Chico Bosta, mais conhecido como o Barão da Merda por ter explorado e ficado rico limpando fossas na cidade.

Outro aparte: – Tem que acabar com a poluição do ar e com a fumaça dos automóveis! A intervenção agora foi do Pé Espalhado trajando fraque e cartola, quando em vida famoso limpador de chaminés.

Foi pedido silêncio no conclave. Afinal, a reunião era séria e não podia haver tumulto. Foi quando a aparição de um político, que começou a falar tentando justificar os empregos públicos que vários dos seus descendentes exerciam, por estarem ainda no mundo dos vivos – São todos meus nepotes! – Tumulto geral – Assuma teu lado feminino!, gritou a travesti Gilda, trajada em sua mortalha de farrapos. – Te dou uma violãozada no traseiro!, grunhiu a assombração da Maria do Cavaquinho.

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O buchicho agora estava roncando no fundão, o Arcabuz da Miséria apreciava sorrindo ao lado do trôpego Franck quando se fez ouvir o berro do Alvino Cruz, o Esmaga: – Seu pulítico corrupito, volta pr'a tua catatumba!

Explosão de fogos, bombas e foguetes. Barulheira infernal que acabou com o sabbath dos fantasmas curitibanos. Assombrações não gostam de estampidos dos foguetes, voltaram todos para seus mausoléus, deixando o Feliz Ano-Novo para os vivos e, mais feliz, para os muito vivos que serão agraciados com as benesses da Viúva.