A fotografia feita no começo do século 20, em Curitiba, mostra a família Schmidlin reunida por ocasião do dia de Natal. A árvore enfeitada tem os membros da família em sua volta. A menina segura a boneca que lhe foi presenteada, os dois meninos ganharam livros alemães próprios à idade. Apesar do chefe dessa família ser proprietário da maior loja importadora da cidade, o Natal em sua casa mostra moderação, coisa que hoje não existe mais| Foto: Acervo histórico CD
Um festejo natalino em dois tempos. Primeiro tempo: o povo humilde se acerca do Castelo do Batel, então propriedade do governador Moisés Lupion, para receber presentes destinados aos seus filhos. Natal de 1949
Festejo natalino em segundo tempo: interior do Castelo do Batel, noite de Natal. Parentes e amigos da família de Moisés Lupion reunidos com seus filhos para receberem seus mimos alusivos à data. Natal de 1949
Esquina das ruas Marechais Deodoro e Floriano, onde ficava a Casa Natal, especializada em lembranças do Paraná, cujas peças eram feitas de pinho e enfeitadas com asas de borboletas. Foto de 1959
As cervejarias de Curitiba incrementavam suas produções para atender à procura das bebidas em duas datas, em que era grande o consumo: festas de fim de ano e no carnaval. Na foto, o balcão de atendimento da Cervejaria Providência, no Batel. Foto da década de 1930
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Falar em velhos Natais já o fazemos sempre que acontece a data, nestes vinte e dois anos em que a Nostalgia existe aqui na Gazeta do Povo. Cada ano que passa voltam à lembrança as festas que já aconteceram, quer sejam coletivas ou apenas na intimidade familiar. Mesmo na Gazeta, as reuniões nos finais de ano ficaram na memória dos que delas participaram. Companheiros da labuta diária que deste mundo já partiram, antigos chefes que hoje são gratas lembranças. Natais em tempo de crise. Natais na calmaria em época de bonança. Enfim, Natais que se foram.

Os Natais do meu tempo de piá, esses sim foram os melhores que conheci. Naquele tempo, a verdade era uma só: a festa era para o dia em que Cristo nasceu. Como pertenço à família de raízes católicas, sempre segui, pelo menos na infância, os ditames da Igreja: montagem do presépio onde a figura principal era a família sagrada cercada pelos adoradores do menino Jesus.

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O Natal em casa também era cercado de preparativos desde o momento que o mês de dezembro pintava na folhinha. A casa inteira recendia a mel, gengibre e outros cheiros que hoje já não são mais sentidos. As guloseimas iam se estocando conforme suas validades de consumo. As bolachas de mel eram feitas e enfeitadas com motivos especiais. O refresco de gengibre era elaborado a tempo de estar borbulhante na noite da ceia. Cerveja caseira. O espetacular bolo de Natal, cuja receita só a tia que fazia tinha conhecimento.

A comilança estava baseada em vários tipos de carnes – onde o peru, naquele tempo, não era tão importante. Cabritos e principalmente leitões eram os sacrificados, tanto para a ceia da véspera como para o almoço do dia próprio do Natal. Em muitas casas, o importante era realmente o almoço do dia 25, isso porque a véspera era dedicada ao culto religioso com a frequência dos fiéis à Missa do Galo, realizada à meia-noite.

Pelas nossas bandas, onde a imigração eslava é preponderante, era costume de se distribuir presentes às crianças no Dia de São Nicolau, festejado sempre no dia 6 de dezembro. Com o tempo, aquela aura divina do nascimento de Cristo foi esmaecendo e a nova figura do imaginário infantil foi ganhando força. É ele, o Papai Noel, adotado como arauto do consumo, a figura central do dia de Natal. Adorado por todos, não importa a religião a que pertençam. Uma pena, velhos e bons Natais já se foram. Hoje o dia é comemorado com gastança desenfreada pela maioria, festejado com júbilo pelos que lucram, sendo estes, em grande número, os que não tomam nenhum conhecimento de que a data é designada ao nascimento do Homem, Jesus Cristo, o Redentor.

Feliz Natalício de Cristo para todos os que leem esta página da Gazeta do Povo.