Thiago Eduardo Pie tinha apenas 29 anos, uma vida e muitos almoços e jantares pela frente. Era chef do restaurante Olivença desde sua inauguração, em setembro de 2013, tendo feito parte da equipe formada para a implantação da casa, com cardápio assinado pelo chef português Hélio Loureiro. Antes de assumir a chefia da cozinha, foi subchefe por um ano e meio. Antes do Olivença, atuou no DOP, que funcionava no mesmo endereço. Começou a cozinhar há oito anos, numa viagem pela Inglaterra. Há seis anos se dedicava profissionalmente à carreira. Era muito querido por toda a equipe. Tinha um temperamento alegre e brincalhão. Na última quarta-feira (28), preparou uma autêntica paella valenciana para o lançamento da Fiesta de La Paella, novo projeto da casa, que une gastronomia, música e drinques especiais. Estava a menos de 48 horas de uma fatalidade. A casa lotou naquela noite e todos – inclusive este colunista – saíram de lá derramando-se em elogios. O evento teve grande sucesso e ele estava muito feliz. Foi seu último show como cozinheiro, já que o prato foi preparado no meio do salão principal do restaurante, com acompanhamento dos convidados. Na tarde de sexta-feira, quando ia para o trabalho, sempre de bicicleta, sofreu uma queda na Comendador Araújo. Segundo Raphael Zanette, patrão de Thiago, testemunhas dizem que um carro o fechou, causando a queda. Ninguém teve tempo de pegar a placa ou outros dados do veículo. No sábado, o estado de Thiago piorou com uma parada cardíaca. Morreu no mesmo dia no Hospital Evangélico. Foi sepultado neste domingo no Cemitério Parque Iguaçu, véspera do Dia de Finados. Thiago deixa a mulher, Danúbia, grávida de oito meses de um menino, e uma filha de 4 anos.
Amigos e colegas de trabalho se manifestaram nas redes sociais no fim de semana. Zanette escreveu: “Difícil explicar, difícil entender....vai com Deus Thiago Eduardo, descanse em paz! Já trabalhei com muita gente, você foi um dos mais comprometidos. Profissional dedicado, afável, humilde e competente! Sentiremos sua falta!”. Danúbia também tornou pública sua dor em sua página no Facebook: “Olha, não sei como explicar, o que eu sinto, ainda não acreditei, parece que tô esperando ele ligar, como sempre ligava. Agora, o que será da gente, ele estava tão contente com o bebê, cheio de planos, queria tanto esse filho, como pôde isso acontecer, perder a vida sem ao menos conhecer seu bebê, queria que voltasse o dia de ontem e eu não permitir que ele saísse de casa! Tô sem rumo, sem vontade de nada, não consigo nem me ver sem ele, foram quase 3 anos de companheirismo, cuidava de mim, meu amigo, meu tudo, logo agora que tinha feito uma família, sempre sozinha, e agora voltei a estar! Ele dizia que eu era seu Porto Seguro, mas na verdade ele era o meu! Não sei o que será da minha vida! Quem vai me ligar toda hora pra saber o que estou fazendo, onde estou, o que eu comi...”.
É com grande pesar e tristeza que esta coluna publica a imagem do último instante profissional de Thiago. A foto estava para ser publicada nos próximos dias para elogiar a paella. Mas ele já não está mais aqui para curtir seu momento de glória. Thiago partiu cedo para a grande viagem sem volta. Viagem assim descrita por Fernando Pessoa no poema Cancioneiro:
A Morte Chega Cedo
A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
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