| Foto: Julio Cesar de Souza
Salomão Soifer usa a passagem exclusiva que liga seu escritório, no prédio do Design Center, ao Pátio Batel
O empreendedor passeando no mall de seu novo shopping
Meditando sob a cúpula do vão central do empreendimento durante o tour com a coluna
O empresário Alessandro Ielo chora ao cumprimentar Salomão Soifer
Soifer mostra na loja da Livraria da Vila, a primeira fora de São Paulo, com projeto do renomado arquiteto Isay Weinfeld
O moderno teatro da Livraria da Vila, que receberá eventos culturais e palestras de escritores
Artista ensaia número de acrobacia em meios às obras finais do shopping
Soifer na casa de espelhos projetada pelo estilista e designer Jun Nakao com base nas residências típicas de Curitiba, sede da Fábrica dos Sonhos, uma das principais atrações do shopping durante a primeira semana de funcionamento
O estilista Jun Nakao em
Poema de Adélia Maria Woellner que ilustra um dos tapumes internos do Pátio Batel. Todos os espaços ainda não ocupados ostentam na fachada poemas de autores paranaenses
Entrada do luxuoso banheiro feminino
Salomão Soifer em um dos cinco pisos de estacionamento. Cada um terá uma cor própria e sinalização eletrônica
Fazendo pose no mall internacional, onde estão grifes como Louis Vuitton, Burbery, Tiffany e Prada
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O colunista pede algumas folhas de papel para fazer suas anotações alegando que levou apenas um pequeno bloco, cujas páginas não seriam suficientes para registrar a história do personagem. Prontamente, Salomão Soifer lhe entrega um calhamaço de laudas quadriculadas e explica: "Só uso caderno quadriculado. Minhas contas são de panificadora. É receita e despesa". Dito isso, o senhor bem disposto e falante, de barba e cabelos brancos e olhos azuis – que inaugura nesta segunda-feira o maior empreendimento de sua vida, o Pátio Batel – começa uma espécie de "Era uma vez..." à primeira pergunta: Como foi sua infância?

Com muita calma e bom humor para quem tirou do bolso R$ 250 milhões, "fora o terreno", e tomou emprestados do BNDES outros R$ 100 milhões, o empresário curitibano, que completa 80 anos no dia 11 de setembro, conta que é o caçula dos quatro filhos do casal Ida e David Soifer, judeus que emigraram da Bessarábia para o Brasil. Só ele e Sara nasceram em Curitiba. Jacó e Maria nasceram em Porto Alegre, para onde os pais se mudaram do Rio de Janeiro. Da capital gaúcha os Soifer vieram para Curitiba, onde se estabeleceram definitivamente. É casado há 58 anos com dona Guiomar (Guita, para os íntimos), artista plástica das mais respeitadas no Paraná; tem três filhos: Simone, David e Suzanne, oito netos e quatro bisnetos.

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Salomão perdeu o pai, mascate, com 7 anos de idade. A morte do patriarca, aos 40 anos, obrigou a família a se mudar da Rua Comendador Araújo para a Travessa da Lapa, no Centro. Ali, fez novas amizades. Alguns dos piás da vizinhança andavam de patinetes de madeira, que ele logo passou a cobiçar. Pediu um à mãe, que negou alegando não ter dinheiro. Inconformado, foi à estação ferroviária e ficou observando o movimento. Viu os carregadores de malas para lá e para cá e teve a ideia de fazer o mesmo, ainda que mal pudesse levantá-las do chão. Voltou no dia seguinte e pediu ao chefe da estação os horários de chegada dos trens. Aí, era só esperar pela freguesia. E ainda aperfeiçoou o negócio: procurou os donos de hotéis e pensões das redondezas e pediu uma comissão para cada viajante que levasse ao estabelecimento. Com os trocados que ganhou, comprou o tão sonhado patinete.

Fazedor de shopping centers

Em 1970, Salomão e dona Guita foram a São Paulo com alguns casais amigos para um fim de semana de lazer. Chegando lá, as mulheres mandaram os maridos levarem as bagagens para o hotel enquanto elas iriam conhecer o Shopping Iguatemi, recém-inaugurado. "Fiquei interessado em conhecer esse tal de Iguatemi e resolvi ir junto", conta. Na época, já formado em Direito, na primeira turma da "Católica", Salomão trabalhava na Relojoaria Progresso, de seu cunhado Chaim Israel Jugend, onde era responsável pela administração do negócio. Assim que pisou no shopping paulistano, o primeiro do Brasil, ficou impressionado ao ver tantas lojas reunidas no mesmo espaço e o movimento de clientes. Voltou a Curitiba com a ideia de comprar um terreno para construir seu próprio shopping center. Convenceu alguns amigos a entrar no negócio e com as economias de um prédio que construíra no Centro e havia vendido para o governo do estado investiu naquele que viria a ser o primeiro shopping center de Curitiba: o Mueller, que acaba de completar 30 anos e do qual detém 45% de participação. De lá para cá, ele soma cinco estabelecimentos do gênero: os Mueller de Curitiba e Joinville, o carioca Rio Sul, o São José, em São José dos Pinhais, e agora o Pátio Batel. Nos últimos dois, Soifer detém 100% do controle acionário.

As malas levaram o menino longe

Mas o ex-carregador de malas queria mais. Hoje, além de shopping centers, o Grupo Soifer é sócio do Terminal de Contêineres de Paranaguá; da Cataratas do Iguaçu S.A, que administra o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, e o Parque Marinho de Fernando de Noronha; da Pavese, de coleta e reciclagem de lixo; e do Complexo das Paineiras, no Rio de Janeiro, área turística que dá acesso ao Cristo Redentor. Apaixonado por cavalos, tem ainda o Haras Springfield, com sedes em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, e Buenos Aires, onde cria cavalos Puro-Sangue Inglês.

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Antes de encerrar a entrevista concedida na sexta-feira, em seu escritório, Salomão Soifer leva o colunista para um tour pelo Pátio Batel em meio às obras finais nas lojas com ajustes aqui e acolá no imenso empreendimento de 137 mil metros quadrados, dos quais 80 mil estão distribuídos nos cinco pisos de estacionamento. Pergunto sobre a polêmica das intervenções que as obras causaram perante os defensores do meio ambiente. "Não tem empreendimento que não dê problema, são muitos órgãos envolvidos. Às vezes, quem pode muito pode menos", diz, para completar: "Isso aqui é um presente para Curitiba, estamos fazendo tudo que foi exigido".

Testemunho vários lojistas e funcionários cumprimentando-o pela beleza do espaço, que vai abrigar 186 lojas em quatro pisos, dentre elas grifes de renome internacional. O italiano Alessandro Ielo, marido de uma das sócias do salão Torriton, um dos espaços mais elegantes do shopping, o vê passando e vai cumprimentá-lo. Mal começa a falar, o homem chora de emoção. Salomão fica com a voz embargada e se despede. Pergunto se o Pátio Batel é seu último empreendimento. "É o penúltimo", responde sorrindo o homem que começou a trabalhar aos 7 anos de idade para realizar o primeiro sonho.

Pátio Batel