Nossos domingos não serão mais os mesmos sem o Ernani, o Gordo, como todos o chamavam, a nos receber na porta do restaurante Madalosso, de sorriso aberto e com o indefectível terno preto. Transpor o pótico da recepção para um dos salões lotados sem antes bater um papinho com ele, regado a uma batidinha, era quase impossível. Tinha sempre uma quente para contar a quem quisesse ouvir. Sabia de tudo o que se falava entre aquelas disputadas mesas fartas de macarronada, travessas de radite, maionese, polenta e frango fritos, especialmente quando eram ocupadas pelos ditos homens públicos.
Ele era a cara daqueles domingos ensolarados em que ir almoçar no Madalosso com a família equivale a um ritual a que todo curitibano, nativo ou de coração, tem de se submeter na vida pelo menos uma dúzia de vezes. Todos o adoravam, principalmente as crianças, logo cativadas por ele com seu jeitão de tio bonachão. Mesmo já não tão gordo como nos anos dourados de seu longo reinado como maître e depois gerente da casa, Ernani ainda nos lembrava aquela figura rechonchuda que recebia celebridades, chefes de estado e políticos de todas as correntes. Aliás, mal sabiam os importantes que posavam ao seu lado que ali a celebridade era ele e não o freguês, fosse quem fosse.
Era uma rara unanimidade do bem, pois dele nunca se ouviu nada que o desabonasse, que diminuísse sua simpatia inata, seu carisma de anônimo célebre. Era nosso irmão ou primo querido por parte de cidade, ao menos daquele pedaço da cidade chamado Santa Felicidade. Ernani, o Gordo, pediu a conta muito antes da hora sem tomar a saideira e retirou-se para a eternidade serenamente. Dormiu na Terra e acordou no Céu. Santa Felicidade!
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