A gaúcha de São Borja Maria Thereza Fontella Goulart entrou para o imaginário dos brasileiros como uma das mulheres mais bonitas do país. Não bastasse a extraordinária beleza, tornou-se primeira-dama do Brasil com apenas 23 anos, com a ascensão do marido, João Belchior Marques Goulart, o Jango, à Presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice, em agosto de 1961.
Nesta semana, ela esteve em Curitiba, com os filhos João Vicente (ex-deputado estadual no Rio Grande do Sul e presidente do Instituto João Goulart) e Denize (historiadora), para participar da abertura do seminário "João Goulart: 30 anos de silêncio", na Facinter. Muito simpática, a ex-primeira-dama que há 20 anos mora no Rio de Janeiro recebeu a coluna na última quinta-feira, no lobby do Hotel Mabu, para esta entrevista exclusiva.
O que a sra. está achando de Curitiba?
Maria Thereza - Adorei. Várias pessoas e amigos já tinham me falado daqui e eu sempre quis vir. Estive aqui em 1962 como presidente da LBA para uma reunião e nunca mais tinha voltado. Pretendo voltar depois da Páscoa.
O que mais lhe chamou a atenção?
Fiquei impressionada com os parques, com a organização. Adorei o Jardim Botânico.
A quê a sra. atribui esse silêncio histórico sobre seu marido?
É interessante, todo mundo me faz essa pergunta. Não tem explicação, não consigo responder. A ditadura fez uma lavagem cerebral e depois, com a volta do Brizola, ele também omitiu muito o nome do Jango. Estamos tratando de restaurar a imagem dele.
Qual era sua relação com o ex-governador Leonel Brizola?
Nunca tivemos muita afinidade. Como diz o carioca, ele nunca foi da minha tribo (risos). Ele era da tribo dele só. Eu sempre digo que ele era o Dorian Gray. Ele se olhava no espelho e dizia: "Eu sou o maior". (risos)
O que a sra. acha do presidente Lula?
Eu não acho. Não o conheço. Mas tenho o maior respeito, é o chefe da nação. Também tem a síndrome de Dorian Gray (risos).
Em quem a sra. votou para presidente?
Votei em branco.
O governo Lula não assumiu as bandeiras reformistas do presidente Jango?
Nada a ver. Ele só fez reformas no Palácio até agora.
Quem a sra. admira na política brasileira?
O Pedro Simon (senador gaúcho do PMDB).
E do governador Roberto Requião, o que a sra. acha?
Gosto muito. Estive com ele há anos no Rio. Tem uma personalidade bem interessante. Tem algumas coisas parecidas com o Jango, é carismático, popular.
E o presidente da Venezuela, Hugo Chávez?
Gosto também. Tudo que vejo e leio dele eu gosto. Ele é bem ousado.
Como a sra. se define ideologicamente?
Não sou política. Me dou com todos e não tenho isso de partido. Gosto muito do César Maia, de quem sou fã.
E da primeira-dama Marisa Letícia, o que a sra. tem a dizer?
Acho legal, discreta, cumpre bem o papel. Só acho meio fraca na parte de assistência social.
O que falta fazer, na sua opinião?
Poderia começar pelas escolas públicas, que estão abandonadas, destruídas. Eu vejo pela situação crítica das escolas do Rio. Ela deveria procurar os empresários, viajar pelo Brasil.
É fácil ser primeira-dama do Brasil?
Não é. Assumi vários compromissos para os quais não estava preparada. É uma grande responsabilidade.
Como foi para a sra. ser considerada uma das dez mulheres mais bonitas do mundo e ter sido comparada à sua colega Jacqueline Kennedy?
Nunca dei muita importância para isso. Achava bom, ficava feliz, mas não achava nada demais. Para mim, era secundário.
Como a sra. definiria, em uma palavra, a situação do Brasil?
Péssima, em todos os sentidos. Violência, abandono das crianças, saúde precária.