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Rodrigo Wolff Apolloni

A Índia e os Jogos Olímpicos

Talvez seja coisa de torcedor excêntrico, mas eu ando encafifado com o desempenho da Índia nos Jogos Olímpicos. É curioso: o segundo país mais populoso do mundo parece lidar com a disputa esportiva sem as mesmas pretensões das demais potências geopolíticas. Nos Jogos de Londres 2012, por exemplo, os indianos terminaram na 55.ª posição, com duas medalhas de prata (tiro e luta) e quatro de bronze (tiro, badminton, boxe e luta), o equivalente a uma medalha para cada grupo de 200 milhões de pessoas. E atrás de países muito menores em termos de população, como Trinidad e Tobago, Granada e Sérvia.

A posição indiana em Londres marcou, inclusive, uma queda de cinco posições em relação a Pequim 2008 e até ao quadro geral de medalhas dos Jogos, que tem o país na 51.ª posição. Para efeito de comparação, o Brasil terminou os Jogos de Pequim na 23.ª posição e os de Londres na 22.ª. No ranking olímpico geral, ocupamos a 37.ª posição.

Os Jogos Olímpicos, em síntese, nos representam de que maneira?

Curioso com o aparente “desinteresse” indiano pelo sucesso olímpico, fui à internet e descobri reportagens e ensaios que expõem alguns argumentos. O primeiro deles, que também interessa à nossa realidade olímpica, é o de que lá a maioria absoluta da população simplesmente não participa de atividades desportivas, exceção feita ao críquete, que está para a Índia como o futebol está para o Brasil.

O segundo argumento, relacionado ao imaginário das elites indianas, dá conta de que, no período pós-independência, foi estabelecida uma pregação de que praticar esportes equivalia a perder um tempo que seria mais bem empregado nos estudos. O que refluiu sobre as políticas governamentais, incapazes de oferecer uma estrutura mínima de fomento desportivo.

Um último argumento, de viés civilizatório, é um tiro na tese da universalidade do esporte: os indianos não se interessariam tanto assim pelo tema por terem seu próprio universo de práticas corporais, formado por jogos, artes marciais, danças, brincadeiras e rituais. Práticas tradicionais, cujo sucesso independe de chancela internacional ou da bênção das grandes corporações desportivas e de mídia.

Uma ideia no mínimo instigante, inclusive quando aproximada do contexto das discussões recentes sobre os Jogos do Rio de Janeiro, sua relação com a identidade brasileira, as idiossincrasias nacionais e as pretensões locais de protagonismo internacional. Os Jogos Olímpicos, em síntese, nos representam de que maneira?

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