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Rodrigo Wolff Apolloni

A maleta da Nova Era

 | KBG/
Ken Geiger/AFP
(Foto: KBG/ Ken Geiger/AFP)

Por esses dias, enquanto promovia a sazonal “limpeza arqueológica” no escritório – remoção de toneladas de contas velhas, provas, tickets e tentativas de poesia que perderam o timing –, dei de cara com uma antiga maleta da marca Pugsley em couro escuro e travas em latão. Quadradona, lanhada e meio fora do esquadro, mas, ainda assim, uma bela peça da pujante indústria curitibana das primeiras décadas do século 20.

Presa à alça, a chavinha que lhe abria as travas. Testei a dita cuja e ela girou lindamente nas pequenas fechaduras, que soltaram as linguetas com um clique. Em seu interior, além das invisíveis carcaças de gerações de ácaros e do bafo de velharia, estavam uma pilha de revistas e um livro, guardados com especial atenção por um Rodrigo adolescente.

Considero o “Despertar dos Mágicos” uma beleza mesmo depois de desistir de boa parte de suas teses

Tesouros na cápsula do tempo: meia dúzia de edições da revista Planeta do início dos anos 80 e um exemplar de O Despertar dos Mágicos – Introdução ao Realismo Fantástico, obra de Jacques Bergier e Louis Pauwels lançada na França em 1960 e que se tornou uma espécie de cânone do movimento Nova Era na Europa.

A própria revista Planeta, aliás, é filha desse sucesso, uma vez que foi fundada pelos próprios Bergier e Pauwels em 1963 (como Planète) a partir da enorme demanda por histórias e análises que fugissem à geometria das posições de esquerda e de direita. Da política, das grandes teorias e das religiões institucionalizadas, enfim, colocadas em questão por druidas, viajantes do tempo, alienígenas e experimentos científicos pouco ortodoxos. “Nada do que é estranho nos é estrangeiro!”, como sintetizava o próprio lema da publicação em seus primeiros anos.

E o que instigava o jovem Rodrigo? Além do próprio Despertar dos Mágicos, que considero uma beleza mesmo depois de desistir de boa parte de suas teses, assuntos como ufologia, civilizações perdidas, parapsicologia, tarô e sociedades secretas. E, como mostram as revistas, por Crowley, Chardin, Goudjieff e Castañeda. Personagens e temas que seguem sendo um sucesso junto às massas, mas que andam tão inflacionados pela internet e pela tevê a cabo que, falando em termos benjaminianos, acabaram esvaziados de sua aura.

De repente, olhando para as revistas, cogitei que os verdadeiros temas secretos apenas retornaram ao oculto, muito mais ocultos, agora, pela suprema camuflagem dos programas tolos e do descrédito geral. E, com esse pensamento surpreendentemente digno de um adepto da Nova Era, fechei a maleta – não sem levar comigo a velha edição de O Despertar dos Mágicos.

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