Notícia bacaninha pinçada de agências de notícias dá conta de que, há alguns dias, jornalistas japoneses viveram momentos de estranhamento (“quase pânico”, segundo certas descrições) durante uma entrevista com o “pai de todas as Rússias”, Vladmir Putin, em Moscou. Isso porque, aparentemente para fazer um social com a mídia nipônica, Putin resolveu entrar na sala de conferências acompanhado por um de seus cães de estimação, uma fêmea da raça akita recebida em 2012 como presente da província japonesa de Akita (faz sentido). Um belo animal, batizado pelo próprio Putin de “Yume” – “Sonho”, em bom japonês.
Pois o bichão entrou livre no salão, rodou um pouco e, em questão de segundos, assumiu a postura clássica de ataque, modelo “Caninos Brancos”: achatou as orelhas, arrepiou os pelos das costas, encarou os presentes e latiu vivamente por vários segundos. Na dúvida, o staff midiático assumiu aquela postura estática. E Putin, mais Putin do que nunca, ficou só castigando o povo de soslaio. Até que, um tempinho depois, sacou um biscoito canino do bolso e dominou a situação.
A história é tão bem acabada que a gente não tem nem sequer certeza do grau de intencionalidade envolvido
A cadela não só parou de latir, como ficou sentada nas patas traseiras e até demonstrou alguns truques para ganhar mais um petisco. Na saída (o presidente fez questão de levá-la até a porta sem apelar para a coleira), porém, apontou o focinho para os jornalistas e emitiu três latidos de advertência, no melhor estilo “estou de olho em vocês”. Fim da história.
É difícil imaginar outro político funcionando de forma tão eficiente em uma situação como essa. Melhor dizendo: é difícil imaginar outro político concebendo e fazendo acontecer uma história tão “épica” envolvendo jornalistas e um cão de guarda. Tão bem acabada, aliás, que a gente não tem nem sequer certeza do grau de intencionalidade envolvido. Muito mais (assumo minha vertente maquiavélica) em uma semana em que os governos do Japão e da Rússia debateram diversos temas, de parcerias econômicas à incômoda questão das Ilhas Curilas, antigo território nipônico ocupado pelos soviéticos em 1945 e herdado pelos russos em 1991.
Só Putin, mesmo. O mesmo, aliás, que em 2007 tentou algo parecido em um encontro oficial com Angela Merkel, quando veio acompanhado por Konni, uma fêmea negra de labrador que apavorou a chanceler alemã. Na época, o presidente garantiu que desconhecia a fobia de Merkel em relação a cães de grande porte. Se desconhecia, mesmo, jamais saberemos, assim como não saberemos se ele cometeu uma gafe ou se quis apenas transmitir uma mensagem usando uma ancestral forma de comunicação. Só Putin, mesmo.