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Rodrigo Wolff Apolloni

A nova caça ao tesouro

Circulando de bike pelo Barigui na manhã de sábado, fui surpreendido pela quantidade de piás caçando pokémons com celulares. Em alguns casos, precisei desviar dos mais distraídos, algo que também não me pareceu o fim-do-mundo propalado pelos apocalípticos: os guris não viraram “zumbis tecnológicos”, apenas estão relaxando e se divertindo. E socializando, uma vez que não vi um único caçando sozinho.

Ainda pousado no selim, fui refletindo a respeito do sucesso do aplicativo “Pokémon Go”. Afora o apelo da tecnologia de realidade aumentada – coisa assustadoramente incrível –, a novidade se assenta em bases culturais muito antigas. É essa soma entre velho e novo que justifica o sucesso e a polêmica.

A primeira imagem que me veio à cabeça foi a da caça ao tesouro, brincadeira com que, graças ao talento criativo de meu pai, me divertia (e distraia) barbaramente na infância. Caçar tesouros, como confirmam a literatura e o cinema, é um grande barato, um prazer que remete ao arcaísmo das primeiras experiências bem sucedidas de coletar alimentos, caçar pequenos animais ou romper cocos e crânios com pedras em busca de proteína.

Os japoneses, quando criaram os pokémons, apelaram ao gosto que as pessoas têm por colecionar coisas. Peças que, como observou Walter Benjamin, guardam um valor simbólico maior que qualquer valor real

A segunda imagem é a dos colecionadores. Os japoneses, quando criaram os pokémons, apelaram ao gosto que as pessoas têm por colecionar coisas. Peças que, como observou Walter Benjamin, guardam um valor simbólico maior que qualquer valor real, ainda que a coleção seja de Picassos ou de pedras da Lua. Uma energia que se manifesta, em extremo, no momento em que o objeto ingressa na coleção – um orgasmático clique na tela do celular.

A terceira imagem é a da aventura. Deixar o conforto incômodo do lar, como queriam os românticos, ir ao mundo e voltar de lá transformado. Não que os jovens caçadores de pokémons pensem nisso, mas, pelo menos, eles estão trocando o sofá pela possibilidade de encontrar tesouros virtuais e reais. A experiência comporta riscos? Não há aventura que não comporte riscos – basta assumi-los, se possível, com a necessária sabedoria.

A quarta e última imagem é a do próprio combate, do movimento irresistível que o menino faz para capturar o bicho digital. Movimento que, como disse Johan Huizinga em “Homo Ludens”, está na origem da cultura. Um prazer fantástico porque serve apenas a si, sem outro objetivo. O mesmo que nutre as Olimpíadas, o futebol e até uma prosaica partida jogo da velha riscada no chão.

Voltando para casa convencido do valor de “Pokémon Go”, tentei baixá-lo em meu próprio celular. Bola na trave: o aparelho era velho demais para tamanha tecnologia. Comprei outro.

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