“Meu filho”, disse meu velho mestre chinês de Tai-Chi-Chuan, “na China existe um ditado”, e fez aquela pausa dramática que só os velhos mestres chineses de Tai-Chi-Chuan sabem fazer, à espera meio vã do despertar prévio do discípulo. “Quando você chega ao topo de uma montanha, só resta um caminho.” Soltou o aforismo, virou as costas e foi cuidar de esquentar a água do chá antes que eu pudesse falar alguma coisa.
Como costuma acontecer com muitos dos temas de menor importância, também esse, o do aforismo chinês da montanha, ficou martelando minha cabeça por alguns dias. A conclusão, esquadrinhei, seria a mais ridiculamente óbvia: a menos que o venerável estivesse se referindo às façanhas improváveis dos lendários heróis marciais chineses que curtiam sair voando depois de chegar ao topo da montanha, o único caminho restante seria o da descida.
Não há poder que prevaleça por mais do que algumas gerações
Simples, assim. Quase um não ditado, e ainda por cima pessimista, o infeliz. Mais tarde, porém, meditando um pouco sobre a história da China, cheguei a uma conclusão menos ranzinza. Uma civilização tão repleta de períodos de grandeza e de crises aprendeu mais do que empiricamente que não há poder que prevaleça por mais do que algumas gerações. Em breve, por mais genial que seja o patriarca – o imperador Huang Di, Alexandre, Carlos Magno –, um herdeiro meio desastrado há de colocar tudo a perder. E, se não for ele, será o próprio tempo, o clima ou um oponente mais preparado para ocupar o cume da montanha.
De posse dessa informação, e aí reside a sabedoria da mais longeva das civilizações, é possível assumir o poder e relaxar um pouco. E relaxar um pouco mais ao perceber que o ditado também vale para a situação oposta: em um universo em constante mutação, ao chegar ao fundo do vale só resta sair dali para um ponto mais alto, nem que seja empurrado pela torrente que ainda desce.
Na aula seguinte, o mestre voltou ao ditado para explicar, brevemente, que o tal “alto da montanha” é o limite de expansão corporal no contexto do Tai-Chi. “Quando um movimento se esgota, a sequência é o seu oposto. Você desloca o peso do corpo para a esquerda e depois para a direita, expande e recolhe, assim”, demonstrou graciosamente.
E, antes de sair de cena para esquentar a água do chá, disparou: “Por falar nisso, na China existe um ditado que diz que não se deve chamar um tigre para expulsar o lobo que entrou em casa. Entendeu?” Ainda não – mas prometo pensar a respeito.
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