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Rodrigo Wolff Apolloni

Arte corporativa e rollmops

 | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
(Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo)

Quem trabalha em escritório muito provavelmente já encarou peças de arte corporativa barata – aquelas pinturas, em geral abstratas e não assinadas, produzidas em escala industrial para camuflar a frieza da burocracia e sugerir sofisticação ao ambiente de trabalho. A menos que eu esteja enganado, não existe arte corporativa barata que não seja pintada, exceção feita, talvez, às estatuetas de Dom Quixote ou da deusa Têmis produzidas com porcas, chapas e pinos soldados que podem ser compradas na Feira do Largo da Ordem.

Fora disso, ou a opção é do próprio titular do espaço – e aí entram temerários desenhos feitos pelos próprios filhos, quadros de cavalos e jardins Zen em miniatura – ou do decorador corporativo, profissional cujas habilidades vão do sublime caríssimo ao kitsch regulamentar. Quanto mais abstrata a tela, aliás, mais difícil estabelecer o que é o quê, restando ao observador não especializado construir significado naqueles momentos escapistas de copinho de café na mão e olhar deambulando pelas paredes.

Quanto mais abstrata a tela, mais difícil estabelecer o que é o quê

É aí, aliás, que a tal arte barata pode ganhar um significado secreto que beira o maravilhoso, como testemunhei em um escritório de contabilidade onde trabalhei séculos atrás. Que, um belo dia, ganhou de presente um quadro de bom tamanho, entronizado com alarde pela mulher do dono, um senhorzinho que, para não arrumar briga em casa, cedia a todas as transformações estéticas que ela sugeria para a empresa.

Não se pode afirmar que a peça era horrível – não era, mas também não tinha beleza alguma. A verdadeira apreciação daqueles tons de amarelo e dos quadrados e círculos cinzentos boiando no espaço infinito, desconfio, não se fazia por um critério tão singelo. Fato é que, em questão de minutos, assim que a mulher do dono saiu da sala feliz por conquistar uma de suas paredes, um gajo que trabalhava como contínuo disse que era o retrato de um vidro de rollmops, opinião que foi aceita por unanimidade, mesmo por aqueles que pouco conheciam da gastronomia tradicional curitibana.

Pareidolias à parte, a tela era, mesmo, a representação perfeita dos “enroladinhos de peixe” em conserva, o que evocava boas memórias de happy hour e boemia entre os empregados – o povo, em síntese, se amarrou no quadro. Se essa havia sido a verdadeira intenção temática do pintor, jamais saberemos, porque, como boa peça de arte corporativa barata, aquela também não era assinada. Melhor para a arte, que ganhou um exemplar de gosto duvidoso, porém plenamente apreciado pelos reles mortais por causa, veja só, de associações gastronômicas muito especializadas.

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