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Rodrigo Wolff Apolloni

As 20 grávidas do Umbará

Há encontros que só mesmo uma espécie de “antropologia esotérica” poderia explicar. Como, por exemplo, o que eu vivi há algumas semanas no Umbará, bairro que é o destino ideal para o morador do Centro em busca de uma minúscula e agradável viagem de sábado.

É difícil imaginar um bairro de Curitiba mais católico que o Umbará

Aproveitando uma folga, peguei o carro e a patroa e fomos até lá bem cedo, mirando a perspectiva de comer um pão com manteiga na chapa em uma padaria do bairro e, na volta, comprar goiabas e atemoias (fruta que eu não conhecia) na barraca solitária instalada à beira da Nicola Pellanda, na direção do Rio Iguaçu. Nos dias de sol, romantizo, seu proprietário deve ter o melhor trabalho do mundo, sentado em uma cadeira de praia borrifando água nas frutas e esperando a clientela chegar.

Chegando ao bairro, aderimos a um circuito religioso que se confunde com a geografia local: é difícil imaginar um bairro de Curitiba mais católico que o Umbará, considerada a quantidade por habitante de templos, cruzeiros, capelas e nichos de santos nas fachadas. Uma horta aqui, casa de madeira ali, lambrequins, alguns cavalos, carneiros e nomes italianos aos montes, nas mercearias, oficinas e olarias. As quadras de bocha, mistério, não estão à vista.

Seguimos para o Parque do Lago Azul, onde encontrei – e aí reside o estranhamento que inspira a crônica – cerca de 20 mulheres grávidas, barrigões à mostra, felizes da vida. Cada uma vivendo sua própria manhã solar de registro da gravidez, acompanhada por um séquito formado por marido, mãe, fotógrafo e assistente.

Imagem rara, que, nas atuais e bizarras circunstâncias epidemiológicas, deve se tornar ainda mais rara por algum tempo. Na minha cabeça, porém, as grávidas ainda estão lá, redondas e felizes da vida. De diferente, no Parque do Lago Azul, só mesmo aquele casal do Centro que, de longe, fica tentando enquadrar o maior número de gestantes em uma única foto feita pelo celular só para ter uma boa história para contar. E um gajo que, a certa altura, resolveu estudar saxofone em uma churrasqueira distante: atacou de Pixinguinha, de leve; se viesse com Kenny G, eu ia desconfiar de pegadinha.

De resto, concluímos que o lugar é perfeito para uma missão imagética tão específica. Tranquilo, sombreado e, ao menos nas manhãs de sábado, livre daquela massa febril de frequentadores que justifica a frase de Sartre sobre o inferno serem os outros. Configuração tão rara, desconfio, só mesmo no Umbará.

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