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Rodrigo Wolff Apolloni

Do mundo que vi em uma feira em Campo Magro

 | Jasmaine Mathews/Free Images
(Foto: Jasmaine Mathews/Free Images)

Às vezes, a experiência da pós-modernidade – configuração incrível de pessoas, culturas e capital em choque, interação, amálgama e sobreposição – cai no seu colo assim, na simplicidade de uma ida à padaria. Longe das teses acadêmicas e das certezas de Facebook, mas em sua própria casa, na mais prosaica das experiências. E você, abestalhado, é pego de surpresa.

Foi o que aconteceu comigo há pouco, em uma dessas tardes indolentes de domingo, quando convidei a patroa e, como faço sempre, saí a deambular pela região metropolitana em busca da beleza desconhecida.

Embiquei a viatura na direção de Santa Felicidade e segui, firme na crença de que o Graal reside pelas bandas de Ouro Fino. Na altura de Campo Magro, passamos por um galpão industrial coalhado de gente. “Vamos lá, que é quermesse”, escuto a mulher, e atendo prontamente ao chamado. Chegando mais perto, enxergo uma faixa de lona com a frase “Feira dos Fabricantes do Brás” e várias barracas de roupas e calçados. Sem churrasco, frango, farofa ou salada de batata, com tênis e camisetas estampadas com tigres.

“Vamos lá, que é quermesse”, escuto a mulher, e atendo prontamente ao chamado

Decepcionado, estava quase voltando para o carro quando, de canto de olho, vislumbrei uma barraca-fetiche de botinas e coturnos, que, como garantiu o vendedor, eram absolutamente autênticos, ainda que custassem um quarto do valor das demais peças originais no mercado. Seduzido pela relação mercadoria x preço, fui examinando a mercadoria e tentando descobrir o sotaque do vendedor, que me contou que era da Síria (“de Idlib”, frisou), enquanto me convencia a comprar um par de botinas por R$ 120.

Derrotado, saquei o cartão de débito. Foi quando me dei conta, mesmo, da tal história da pós-modernidade. Isso porque o vendedor foi pedir a máquina leitora de cartões para o seu colega da barraca do lado (de vestidos indianos), um risonho nigeriano que conversava, veja só, com um casal de bolivianos da barraca de camisetas estampadas com esqueletos mexicanos. Ao lado, o vendedor chinês de bonés de times americanos de beisebol dava dicas de uso dos adereços a um grupo de adolescentes locais, descendentes, quem sabe, dos poloneses que colonizaram Campo Magro no fim do século 19.

Enquanto fazia mentalmente todas essas conexões, recebi o cartão de débito e a sacola com as botas. E a explicação de que a feira acabaria logo, para que os feirantes pudessem chegar em casa, no Brás, no início da madrugada. Outra semana, outras feiras pelo mundo, imaginei – exatamente como nos tempos mais coloridos da humanidade. Na vizinhança, a patroa escolhia vestidos indianos.

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