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Rodrigo wolff Apolloni

O binóculo astronômico

 | Fabiano Belisario Diniz/Divulgação
(Foto: Fabiano Belisario Diniz/Divulgação)

Depois de pelo menos 30 anos de desinteresse, ando às voltas, novamente, com a possibilidade de compra de um binóculo. A razão precípua desse desejo ótico renascido não é, como no passado adolescente, a de tentativas esdrúxulas de flagrar a vizinhança pelada ou cometendo crimes inconfessáveis junto à janela. O motivo, agora, é a muito mais nobre ciência da astronomia, cujo interesse levou-me e à patroa, há algumas semanas, a frequentar um curso para entusiastas das estrelas, satélites e outras bossas celestiais.

Foi lá que aprendi, por exemplo, que comprar um binóculo astronômico é muito mais proveitoso, em termos financeiros e de uso pelo amador, do que adquirir uma luneta poderosa ou um telescópio-traquitana repleto de tripés, giroscópios, colares de graus e contrapesos. “Vai por mim: com um binóculo de qualidade e uma cadeira de praia com apoio para os braços, você vai esquadrinhar a lua melhor que o Galileu”, garantiu o professor responsável pelas aulas, antes de detalhar as mil e uma características do binóculo ideal e sugerir sua compra no Paraguai, sem o porcentual astronômico de impostos de praxe do lado de cá da fronteira.

Já me imagino correndo para as bandas de Campo Largo em um cair de tarde de céu azul

Um binóculo, devo concordar, é muito menos charmoso que um telescópio, mas, se a ideia é ver estrelas e não devolver o equipamento à caixa e ao ocaso depois de tentar montá-lo sem sucesso, o negócio é deixar o romantismo de lado.

O próximo passo (enquanto escrevia esta crônica, aproveitei para comprar um ótimo aparelho “10x50” pela internet) é descobrir um lugar, por estas bandas, que permita examinar um céu limpo e livre da poluição luminosa.

Quanto às sempiternas nuvens curitibanas, pouco resta a fazer, a não ser espiar o cosmos – um salve a Carl Sagan – por entre as fímbrias de algodão. Em relação à luz e à escuridão, já me imagino correndo para as bandas de Campo Largo (Bateias, Colônia Dom Pedro II, saída para Campo Magro) em um cair de tarde de céu azul, num poético movimento de caçada ao pôr do sol que vai acabar lá, na estrada silenciosa e na cadeira de praia, diante de uma Via Láctea como nunca vi, de uma lua absolutamente memorável. E que, nesse dia, eu também possa ver asteroides, aglomerados e nebulosas, e até alguma coisa – na distância segura, for sure – que me leve a pensar em discos voadores. É numa dessas, enfim, que eu me filio ao clube de astronomia.

P.S.: Com este texto, encerro minha participação como cronista nesta Gazeta do Povo. Foram 311 semanas ou algo como 775 mil caracteres, o equivalente a um livro bem fornido de histórias e reflexões, pelos quais agradeço imensamente. Vida longa!

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