Uma das notícias curiosas dos últimos dias foi a que dava conta da descoberta, por um cidadão, de um pedaço de terra sem dono na fronteira entre a Croácia e a Sérvia. Uma área de seis quilômetros quadrados – equivalente a 1,6% do território de Curitiba – tão distante e despovoada que ninguém dava a menor pelota, nem mesmo o cobrador de IPTU. Verdadeiro nada geográfico, a despeito do clima bacana e do relevo amigável.
Pois o cidadão consultou arquivos, fez perguntas aos agentes de governo próximos e confirmou sua hipótese. Foi até lá, correu pelado pela área (não, ele não fez isso: eu é que me empolguei) e, diante da não reação dos países vizinhos, fincou sua bandeira. E fundou um país a que chamou “Liberland”, que, até o momento, conta três cidadãos – o próprio fundador, sua noiva e um gaiato amigo deles que embarcou na ideia.
Se ninguém resolver intervir para evitar incômodos geopolíticos, o fundador de “Liberland” terá um desafio formidável
Na sequência, foi aos jornais e anunciou a novidade. A mídia adorou, contou a história e estampou sua cara sorridente. Ele também foi contratado para proferir palestras (“começou mal”, pensarão alguns) e, nos últimos dias, vem sendo chaleirado pelos libertários de plantão. Strogonoff e batata palha da melhor qualidade. Para todos os efeitos fundou, de fato, um país. Beleza.
Beleza, nada: agora, o mundo espera que ele dê continuidade ao projeto. E é aí que a história pode deixar as páginas da editoria de “mundo estranho” e ingressar em áreas mais sérias dos portais de notícias. A Croácia, por exemplo, emitiu uma nota chamando “Liberland” de piada e, de quebra, mandou a polícia para a fronteira, a fim de evitar o ingresso de imigrantes; a Sérvia emitiu outra, dizendo que tudo é uma grande tolice.
Se a notícia não perder o interesse, a coisa pode ficar séria. Imaginemos, por exemplo, que o fundador seja mandado embora por um dos países vizinhos – o que deve acontecer – e o território, formalmente anexado. O outro vizinho, é quase certo, vai chiar, dando início a uma temporada de azedume em uma área da Europa ainda mal cicatrizada de uma guerra medonha.
Se, no entanto, ninguém resolver intervir para evitar incômodos geopolíticos, o fundador terá um desafio formidável, a começar pela atração de cidadãos. Pensando cinicamente, tudo teria sido mais simples se ele tivesse entrado lá e montado um spa. Essa, porém, é apenas uma reflexão preguiçosa. Quem pariu Mateus, de resto, que o embale – e tomará que dê tudo certo por aquelas bandas.
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