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Começo o ano novo com o pé direito no território das leituras, devorando às pratadas as 906 páginas de Os Románov 1613–1918, do historiador britânico Simon Sebag Montefiore, de quem, há alguns anos, já havia lido as biografias do jovem Stalin e de Stalin no poder. O livro é uma potência de informação, dessas de fazer inveja àqueles que, como eu, julgam-se conhecedores suficientes da história – quando mal arranham o verniz da matéria.

Montefiore é um apaixonado pela Rússia, sentimento que transmite com uma enormidade de dados apresentada com a qualidade artística de um bom contador de histórias. E, no caso da história da nobreza russa, elas incluem todos os sabores de um pantagruélico banquete eslavo: riqueza extrema, espionagem, intrigas políticas, assassinatos, sexo desenfreado, guerras terríveis e execuções, bebedeiras homéricas, poder ilimitado sobre outros seres humanos e um curioso amor real, compensatório, por homens santos que, além de rezar e profetizar, também se amarravam em riqueza, sexo desenfreado, bebida e assassinato.

Eu não fazia ideia da antiguidade e da extensão dos interesses russos no Oriente Médio

Alguns czares, de fato, eram apenas uma triste soma de pecados, inépcia e desatinos, caso, por exemplo, de Paulo I (1754-1801); outros, e é aí que a história fica espetacular, juntavam talento gerencial, ousadia e coragem à bagagem cármica. Figuras como Pedro, o Grande (1672-1725), e Catarina II (1729-1796), que refinaram o conceito de autocracia – o governo de um único homem autorizado por Deus – e ajudam a compreender a estima média russa pelo estilo patriarcal macho man de Vladimir Putin (que, como descubro em uma nota de rodapé de Os Románov, é neto do cozinheiro que serviu a Rasputin, Lenin e Stalin).

Do ponto de vista geopolítico, a obra também funciona como alerta a respeito da fragilidade de certas representações de mundo. Eu, por exemplo, não fazia ideia da antiguidade e da extensão dos interesses russos no Oriente Médio, que brilham na mídia em episódios recentes como o da participação militar na guerra da Síria – e que já brilhavam havia centenas de anos nas guerras entre eslavos e otomanos. Outras questões, como a do conflito territorial entre Rússia e Ucrânia e a da presença russa no Extremo Oriente, também se mostram bem mais complexas. Por mais que nos choquemos com a “nova eterna” autocracia russa, sua história, em síntese, não deveria autorizar comentários rasos em redes sociais.

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