Não sei se acontece com você, mas comigo é infalível. Sou invariavelmente fisgado, nos jornais, revistas, estantes de livraria e programas de tevê, por títulos que trazem certas palavras. É uma tolice, mas não consigo não ler ou não assistir, nem que seja o comecinho, de obras que tenham por título termos como "mistério", "segredo", "secreto", "oculto", "desconhecido" ou "esquecido". "Maldito", "estranho" e "insólito" também prendem a atenção. "Por dentro de" e "a resposta para", idem.

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A coisa funciona até para receita de pudim, como descobri ao ser atraído pela reportagem "O segredo do pudim de mandioquinha salsa", do Globo Rural. Uma coisa é certa: ainda que o tal conhecimento não me sirva para nada, agora eu sou dono de um segredo gastronômico – e isso, vai saber, talvez represente um diferencial vital em um futuro exótico.

Outra linha de assalto dos veículos de comunicação é a das listas, números, calendários ou mapas mentais. Vasculhando a internet em busca de referências para esta crônica, descobri que é possível perder peso em dez, sete, cinco e até em um dia. E que há onze passos para desinchar o abdômen, oito passos para você se tornar milionário antes dos 30 anos (se eu os conhecesse, estaria na praia), dez passos para uma maquiagem perfeita e até seis passos para hipnotizar alguém – este último texto, aliás, foi lido em um portal intitulado Fatos Desconhecidos.

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O segredo para a compreensão do poder de atração de expressões como "o segredo para", arrisco, se prende a dois fatores psicossociais. O primeiro, arcaico, diretamente associado à manutenção da vida. Sobrevive quem detém uma informação estratégica; quem a detém é capaz de superar seus concorrentes no contexto da dispersão genética. É a história, por exemplo, do antropoide de 2001: Uma Odisseia no Espaço que descobre o poder das armas ao golpear um concorrente com um osso.

O segundo fator estaria relacionado à elaboração do método, que permite que a receita do sucesso seja compartilhada com o próprio grupo. É assim que funciona com os Dez Mandamentos, o Código de Hamurabi e os aforismos chineses.

De nada adianta, porém, partir para receitas muito complexas. Ninguém presta muita atenção a apelos do tipo "Cem passos para...", uma enormidade diante da urgência da vida. A aceleração da sociedade e do individualismo, aliás, deve fazer com que as receitas sejam cada vez mais pragmáticas. Em minha pesquisa, descobri um texto cujo título era "Emagreça em cinco minutos", que, na glória de sua picaretagem, expõe a velocidade das coisas.

Enquanto isso, sigo docilmente enganado pelos mistérios e pelos mandamentos – a vida ficaria um tanto sem graça sem eles.

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