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Rodrigo Wolff Apolloni

Os policiais chineses de Roma

Acabo de ler uma notícia instigante em portais de notícias europeus. Dando conta de que, neste exato momento, policiais chineses devidamente paramentados (uniforme azul marinho, quepe, cassetete, insígnias e óculos Ray-ban) estão patrulhando ruas em Roma e Milão. Trabalhado em esquema Cosme e Damião, prontos a resolver todo tipo de situação, de ataques terroristas a gatos que subiram na árvore. Isso, sem a existência de qualquer evento internacional envolvendo o governo da China na Itália, feiras mundiais ou coisa parecida.

Não constituem, assim, uma tropa, mas são de elite: quatro oficiais com pinta de Jet Li, que, entre uma jornada e outra pelas antigas calçadas, param para comer uma pastasciutta com seus colegas italianos. Sua missão? Garantir segurança à multidão sínica que, recentemente, passou a ocupar a primeira posição na lista local dos turistas asiáticos ordeiros e loucos para gastar. Por ano, a Itália recebe três milhões de chineses que consomem de tudo – queijos, vinhos, roupas, arte e até produtos chineses comprados por engano - com uma alegria que gostaríamos de ver por aqui.

A maior surpresa reside na tranquilidade com que a população de Roma e Milão recebeu os policiais

Os agentes também trabalham para atender as demandas da crescente comunidade sino-italiana e, de quebra, colaboram com a polícia local no combate às máfias (chinesa e doméstica) que infernizam a vida dos imigrantes.

Pelo convênio firmado entre os governos da Itália e da China, a missão deve acabar em breve, na próxima sexta-feira (13), quando os policiais voltam para casa. A perspectiva, porém, é de renovação e de troca de patrulhas, com duplas italianas fazendo rondas em cidades como Xangai e Beijing.

A maior surpresa, pelo menos para mim, reside na tranquilidade com que a população de Roma e Milão recebeu os policiais. Olhando de longe, de fato, a história não parece assim tão séria - são povos legais, que se conhecem desde os tempos de Marco Polo, exercendo uma missão com todas as autorizações oficiais possíveis.

Em certo nível psicossocial porém, a coisa é mais grave, em especial se forem incluídos no raciocínio termos como poder de polícia, poder local, repressão e identidade nacional. Milenarmente, a perspectiva de ser ver patrulhado e protegido pelo “outro”, pelo não nacional, não é simples e nem bem-vinda, mesmo que nasça das melhores intenções. Os milênios, porém, derretem ao sol de uma pós-modernidade que, graças ao turismo e às guerras, trouxe a multiculturalidade ao centro do mundo. Do alto do seu exotismo, os policiais chineses postados em frente ao Coliseu ou à Basílica de São Marcos constituem um sinal fantástico.

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