Acabo de ler uma notícia instigante em portais de notícias europeus. Dando conta de que, neste exato momento, policiais chineses devidamente paramentados (uniforme azul marinho, quepe, cassetete, insígnias e óculos Ray-ban) estão patrulhando ruas em Roma e Milão. Trabalhado em esquema Cosme e Damião, prontos a resolver todo tipo de situação, de ataques terroristas a gatos que subiram na árvore. Isso, sem a existência de qualquer evento internacional envolvendo o governo da China na Itália, feiras mundiais ou coisa parecida.
Não constituem, assim, uma tropa, mas são de elite: quatro oficiais com pinta de Jet Li, que, entre uma jornada e outra pelas antigas calçadas, param para comer uma pastasciutta com seus colegas italianos. Sua missão? Garantir segurança à multidão sínica que, recentemente, passou a ocupar a primeira posição na lista local dos turistas asiáticos ordeiros e loucos para gastar. Por ano, a Itália recebe três milhões de chineses que consomem de tudo – queijos, vinhos, roupas, arte e até produtos chineses comprados por engano - com uma alegria que gostaríamos de ver por aqui.
A maior surpresa reside na tranquilidade com que a população de Roma e Milão recebeu os policiais
Os agentes também trabalham para atender as demandas da crescente comunidade sino-italiana e, de quebra, colaboram com a polícia local no combate às máfias (chinesa e doméstica) que infernizam a vida dos imigrantes.
Pelo convênio firmado entre os governos da Itália e da China, a missão deve acabar em breve, na próxima sexta-feira (13), quando os policiais voltam para casa. A perspectiva, porém, é de renovação e de troca de patrulhas, com duplas italianas fazendo rondas em cidades como Xangai e Beijing.
A maior surpresa, pelo menos para mim, reside na tranquilidade com que a população de Roma e Milão recebeu os policiais. Olhando de longe, de fato, a história não parece assim tão séria - são povos legais, que se conhecem desde os tempos de Marco Polo, exercendo uma missão com todas as autorizações oficiais possíveis.
Em certo nível psicossocial porém, a coisa é mais grave, em especial se forem incluídos no raciocínio termos como poder de polícia, poder local, repressão e identidade nacional. Milenarmente, a perspectiva de ser ver patrulhado e protegido pelo “outro”, pelo não nacional, não é simples e nem bem-vinda, mesmo que nasça das melhores intenções. Os milênios, porém, derretem ao sol de uma pós-modernidade que, graças ao turismo e às guerras, trouxe a multiculturalidade ao centro do mundo. Do alto do seu exotismo, os policiais chineses postados em frente ao Coliseu ou à Basílica de São Marcos constituem um sinal fantástico.
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