As toaletes pagas que tinham substituído os antigos "pissoirs" desapareceram das ruas de Paris. Os "pissoirs" eram malcheirosos anacronismos numa cidade tão civilizada e as cabines automáticas sucumbiram, acho eu, ao conflito entre a pressa para usá-las e a dificuldade em arranjar troco. O que a gente mais via em Paris era gente pulando de um pé para o outro e contando moeda na frente de uma toalete de rua impiedosamente fechada. Mas deram outra chance à idéia na moderna Berlim, onde existem sólidas cabines de aço alemão, com instruções em várias línguas, para as necessidades dos transeuntes. Com uma particularidade curiosa. Segundo as instruções, ninguém precisa se preocupar com o terror de ficar preso dentro da cabine até que venham dinamitar a porta. Dentro da cabine tem um botão para abrir a porta. Mas se o botão não for acionado em 20 minutos, a porta se abre sozinha. Dirá você que 20 minutos são suficientes para qualquer necessidade humana. Mas sempre haverá o caso de um cidadão ou uma cidadã que não conseguiu resolver seu problema em 20 minutos. E imagine a aflição da pessoa que vê chegar os 20 minutos sem que tenha terminado de fazer o que precisava fazer. Sabendo que falta pouco para a porta se abrir sozinha e ela ficar exposta a quem passa, justamente num momento, assim, de crise existencial extrema. De certa forma (ou você pensou que esta crônica não era sobre o jogo de ontem?) foi uma aflição parecida a que sentimos todos durante os mais de 40 minutos em que o gol contra a Croácia não saía, e a ameaça do primeiro gol ser da Croácia, com todas as conseqüências psicológicas disto, era real. Mal comparando, o alívio que sentimos com o gol espetacular do Kaká aos 44 minutos foi equivalente a chegar ao fim da nossa performance na cabine aos 19 minutos.
Foi pouco o Brasil. A Croácia atacou sempre pela esquerda, o que significou que Cafu quase não foi à frente, e Roberto Carlos também, raramente chegou perto da linha de fundo. Nosso ataque se resumiu em tentativas pelo meio, onde sempre havia mais croatas do que brasileiros e as bolas enfiadas batiam e voltavam. Quanto aos croatas se pode dizer o seguinte: pela sua torcida, mereciam pelo menos empatar. Pela sua camiseta, mereciam perder. Mas é mentira que os jogadores brasileiros fugiram na hora de trocar as camisetas.
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