Os ingleses fizeram a primeira revolução republicana da História mas, sabiamente, voltaram atrás e mantiveram a monarquia, intuindo que um poder não pode governar e dar espetáculo ao mesmo tempo. Na Inglaterra, o parlamento governa e a monarquia dá o espetáculo. A sabedoria da decisão se confirmou na era dos tablóides, para a qual o parlamento tem dado sua cota de escândalos e circunstância, mas nada parecidos com os fornecidos pela família real. Pois o que são os rituais cotidianos e pecados venais de plebeus comparados com a pompa e as indiscrições de príncipes e princesas? A realeza é paga para ser o teatro do poder, uma representação do Estado como drama familiar, como sitcom, para inspirar, divertir ou indignar os súditos. Enquanto isso os parlamentares governam.
No Brasil, somos antiingleses. Aqui o rei e sua família dão a sua cota de escândalo e circunstância, mas o parlamento é que tem dado o espetáculo. Nos revela a sua intimidade, os seus conflitos de lealdades e escrúpulos, os seus podres, as suas culpas e expiações e seus pseudo-príncipes, pseudo-princesas e maus atores e concentra o interesse de imprensa e público sobre nada muito relevante para os destinos da nação. Enquanto isso o rei recuperou alguns privilégios da monarquia absoluta, anteriores a todas as revoluções, como a completa irrelevância dos seus pecados para os súditos, que continuam a venerá-lo. Os escândalos do palácio, ao contrário dos escândalos do parlamento, não têm conseqüência. O direito divino do soberano foi substituído pela simpatia, apesar de tudo que o mantém acima do feio espetáculo dos "comuns" se interdevorando em público.
Já se disse que o Brasil está várias revoluções atrasado. Se nem o fim do feudalismo foi providenciado ainda, não se pode pensar em implantar o sistema inglês aqui como naquele anúncio que oferecia mudas de árvores milenares nem tentar acertar o funcionamento dessa nossa monarquia parlamentar ao avesso para poupar nossos parlamentares da desmoralização total. Na própria Inglaterra já tem muita gente achando que a monarquia é um anacronismo condenado, cujo custo não compensa o teatro. Vão acabar dizendo o mesmo do Congresso brasileiro.
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