No seu discurso no encerramento da Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas realizada em Bretton Woods para combinar como seriam as relações comerciais depois da Segunda Guerra Mundial que chegava ao fim, lorde John Maynard Keynes, um dos inspiradores, e principais participantes à frente do time inglês, do encontro disse que se a cooperação que as nações tinham demonstrado durante a conferência continuasse, "o pesadelo em que a maioria de nós passou tempo demais das suas vidas terá acabado", e "a irmandade dos homens terá se transformado em mais do que apenas uma frase." A competição monetária e os conflitos e barreiras que tinham levado a duas guerras mundiais deixariam de existir.
O otimismo declarado por lorde Keynes só se explica pelo seu cavalheirismo ou gosto pela retórica. Ele tinha sido derrotado na reunião. Em Bretton Woods as boas intenções esconderam a questão real do encontro: a que Roosevelt já tinha proposto a Churchill quando condicionou a entrada dos Estados Unidos na guerra ao fim dos mercados cativos coloniais e do império econômico britânico, e a necessidade de garantir mercados livres para a produção americana que se multiplicaria com a mobilização para a guerra. Enquanto Keynes acreditava que o Banco Mundial insistência sua realmente favoreceria a irmandade entre os homens, o secretário do Tesouro americano Henry Morgenthau, mais interessado no Fundo Monetário Internacional, empenhava-se na mudança do centro financeiro do mundo de Londres para Washington e Wall Street. O que venceu em Bretton Woods não foi o espírito público de Keynes mas o espírito prático dos americanos. Morgenthau estava lá para sacramentar a transferência do poder econômico da Inglaterra para os Estados Unidos, a única nação que sairia da guerra em condições de impor sua vontade. E impôs. O discurso de Keynes prevendo que a cooperação entre as nações traria uma era de inédita prosperidade universal foi muito aplaudido, mas o resultado prático de Bretton Woods foi que os americanos ganharam acesso aos mercados antes dominados pelo desdentado império britânico e a prosperidade universal que veio se concentrou principalmente nos Estados Unidos.
Keynes morreu pouco depois de Bretton Woods. Hoje ninguém se lembra que ele foi um dos fundadores do que está aí, embora pensasse em outra coisa. A derrota da sua visão do que poderia ter sido, pela imposição americana, tem uma ponta de ingratidão: afinal, foi ele o teórico do dirigismo econômico de Roosevelt que salvou o capitalismo americano de si mesmo na crise dos anos 30. Não deveria haver retratos dele na sala de nenhum dos monetaristas do Banco Mundial ou do FMI ou de outros economistas da mesma linha. Talvez estejam sendo colocados agora.
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