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Sou um veterano da Guerra Fria. Na primeira vez que vim a Berlim passei pelo famoso "Checkpoint Charlie", onde policiais do lado comunista examinavam a parte de baixo do nosso ônibus e as nossas caras com a mesma atenção, atrás de algum sinal de ameaça ao regime. Anos depois fizemos a travessia de metrô, pela também notória estação de Friedrichstrasse. Nas duas vezes nossa estada na sombria Berlim Oriental foi temperada por episódios de humanidade brasileira.

Na primeira vez, fazia parte do grupo o escritor paranaense Domingos Pellegrini, que no meio do tour desafiou a rigidez protocolar da nossa guia com uma incontrolável vontade de fazer xixi. Tanto insistiu o Pellegrini que o ônibus parou para ele entrar num café e se aliviar. Entrou – e não saía mais. Nós preocupados, esperando no ônibus, e a guia inquietíssima, na certa já pensando na explicação que teria de dar para o desaparecimento de um incontinente brasileiro sob sua responsabilidade. Ela não se agüentou e foi buscar o Pellegrini – que saiu com um copo na mão, trocando brindes com seus novos amigos, que vieram para a porta do café despedir-se dele. No caminho de volta para o lado ocidental, Pellegrini gritava dentro do ônibus "Os sistemas não valem nada! São as pessoas que importam!". A guia não achou graça.

Da outra vez quem estava no grupo era o Ziraldo. Passamos todos pela polícia oriental na saída do metrô – menos a nossa guia. Ela trazia um jornal que, por alguma razão, não agradou às autoridades. Barraram sua passagem. E então o Ziraldo fez uma coisa provavelmente inédita em toda a história da cidade dividida: voltou para o lado ocidental, passou de novo pelo controle e reentrou no lado oriental, trazendo a guia, sob os nossos aplausos. Até hoje ninguém sabe que argumentos o Ziraldo usou, e em que língua, para realizar seu feito. Há quem date da passagem do Ziraldo pela estação de Friedrichstrasse, duas vezes, o começo do fim do muro de Berlim.

Voltamos a Berlim depois da queda do muro, quando estavam construindo a nova cidade integrada e viva que vimos ontem, na nossa chegada do interior. Um cidadaço, claramente a caminho de cumprir a previsão de que será a Paris do século vinte e um.

A Austrália foi uma semi-surpresa, os tchecos confirmaram que podem ir longe e os italianos pareciam cansados da Copa – no seu primeiro jogo! Mas ganharam. E hoje é nóis.

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