Foi a Copa de tão pouco futebol que o maior divertimento estava na platéia. Ver o Maradona torcendo e especular sobre como o Beckenbauer conseguia estar em todos os jogos, alguns realizados no mesmo dia a centenas de quilômetros um do outro. Descartada a tese dos quatro sósias, concluiu-se pela tese do helicóptero rápido. Como Beckenbauer também se casou durante a Copa, comenta-se que o noivo é que era um sósia.

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Foi a Copa em que chegamos convencidos de que só muito azar evitaria a vitória do Brasil e em que não foi preciso azar. Bastou um Zidane.

Foi a Copa que uniu um país em torno da sua seleção, e dividiu sua alma. Os alemães preocupavam-se com uma questão nova em suas vidas: Quando patriotismo é demais? Quando o amor por uma seleção deixa de ser só isto e se transforma em recaída em velhos hábitos? Pela primeira vez viu-se alemães abanando a bandeira do seu país sem medo de serem mal compreendidos. Foi um grande passo para esquecer o passado e acabar com desconfianças. Dizem que o próximo é modificar o hino nacional. Onde diz "Deutschland, Deutschland uber alles" ficaria "Deutschland, Deutschland uber alles no bom sentido".

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Foi a Copa em que dois jogadores prometiam ser sensações. Um era o Ronaldinho Gaúcho. Melhor do mundo, etc. O outro era o garoto inglês Theo Walcott. Apenas 17 anos, diziam maravilhas dele. Nenhum dos dois jogou nada. O Theo Walcott pelo menos tem a desculpa de nunca ter entrado em campo.

Foi a Copa em que se abriu uma discussão sobre a importância da torcida na produção de um time. "Allez les vieux", o refrão alternativo a "Allez les bleus" da torcida francesa, ajudou. Pelo menos os veteranos da França chegaram à final. Teria faltado algo parecido para animar os nossos velhos? Está aí uma explicação.

Foi a Copa do gol do Esteban Cambiasso, concluindo aquela trama do ataque argentino, quando a Argentina fez seis a zero na Sérvia e Montenegro e chegou-se a pensar que salvaria o futebol da mediocridade que pintava. A Argentina nem salvou o futebol da Copa nem se salvou. Mas que aquele gol foi bonito, foi.

Foi finalmente a Copa em que se estava consagrando uma legenda que a própria legenda se encarregou de destruir. Seria a Copa do Zidane. Foi a Copa da desgraça do Zidane, que saiu de campo sob vaias. Pelo menos um pouco de drama para temperar a mediocridade.

E foi a minha última Copa. O Cafu e eu não estaremos na África do Sul, em 2010. Vou tentar esquecer esta e lembrar as outras. Principalmente as que ganhamos.

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