Não me lembro bem como é a história. Um profeta, cabeludo como devem ser todos os profetas, fala para uma multidão, que aplaude suas palavras.
Jesus voltará, e premiará todos os justos! (Palmas. Vivas).
Os que hoje não têm nada um dia terão tudo! ("Muito bem!". "É isso aí!" etc.)
Os ímpios serão punidos e os puros prevalecerão! ("Oba!" "Boa!")
Não haverá mais pecados da carne, e toda bebida alcoólica virará pó!
Silêncio, enquanto a multidão pondera esta última previsão. Até que de dentro de um boteco ouve-se uma voz enrolada que comenta:
Já bobeou, o cabeleira.
Não sei se quando isto for publicado o Barack Obama já terá escolhido seu secretário do Tesouro, mas entre os nomes sendo cogitados estava o de Lawrence Summers, aquele que na direção do Banco Mundial recomendou que indústrias poluidoras fossem recolocadas em países onde a mão-de-obra é mais barata, pois assim o custo social seria menor. E depois, como presidente de Harvard, sugeriu que certas atividades estavam além da capacidade intelectual das mulheres. Dizem que ele é um crânio em matéria de economia e finanças. Se for o escolhido que pelo menos seja amordaçado quando aparecer em público. De qualquer jeito, é a primeira bobeada do Baraca.
Mas a presença, na lista, do Summers, que foi secretário de Tesouro do Clinton, e de Robert Rubin, que também foi, só prova o que já se sabia, que Obama não vai divergir muito da ortodoxia corrente na sua política econômica, a não ser que seja forçado por um agravamento inédito da crise. Durante a campanha a Naomi Klein já notara que a equipe de conselheiros econômicos do candidato Obama incluía muita gente identificada com a escola de Chicago não fosse o próprio Obama ligado à Universidade de Chicago, embora não ao seu departamento de economia, do topo do qual Milton Friedman pregou o evangelho neoliberal e fez a cabeça de uma geração. Se a expectativa é que o presidente eleito comande um segundo New Deal como o de Roosevelt para recuperar o país, não fica claro como fará isso sendo aconselhado por discípulos do cara que desmontou o New Deal e seu legado.
Mas não vamos prejulgar o Baraca. Todo homem tem direito a bobeadas, desde que não se tornem um hábito.
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