Entre os muitos mitos que se criaram sobre a seleção brasileira um dos mais repetidos, e mais desmentidos, foi o de que o time vencedor da Copa de 1958 tinha sido escalado pelos jogadores. Contra a vontade do técnico Vicente Feola, os jogadores, liderados por Nílton Santos, teriam imposto a escalação de Vavá e Pelé em lugar de Mazzola e Moacyr e principalmente de Garrincha em lugar de Joel, na ponta direita, lembra dela? Um corolário deste mito (ou verdade) é que as modificações teriam sido feitas enquanto o Feola dormia, pois o rotundo treinador não conseguia manter os olhos abertos nem durante os jogos. O mais difícil, em caso de vitória do Brasil, não seria carregar o Feola em triunfo. Seria acordá-lo para as comemorações.
Muita gente, depois, insistiu que nada disso era verdade. Feola podia dar seus cochilos, mas não era um treinador omisso, e as modificações no time tinham sido acertadas em conversas com os jogadores, sem imposição de ninguém. O fato é que o time titular que viajou para a Suécia em 58 foi bem diferente do time que venceu a final. No meio do caminho alguém se deu conta de que precisava mudar. Se o Feola sonhou com as modificações antes de fazê-las, ou se houve uma reunião organizada pelo Nilton Santos em que se proibiu a entrada de técnicos e cartolas e os jogadores decidiram o que fazer, não se sabe. Talvez este seja um caso em que se deva seguir o conselho do velho John Ford: mesmo que os fatos desmintam a lenda, publique-se a lenda. Ela é a verdade que as pessoas preferem.
Estaria havendo um descontentamento entre os jogadores da atual seleção. Todo o mundo já teria se dado conta de que precisa mudar. Discute-se o mal aproveitamento do Ronaldinho Gaúcho, que estaria sofrendo um processo de beckhamização: fica fazendo lançamentos, alçando bolas para a frente do gol e batendo escanteios, como o galã inglês, e não entra na área nem para abraçar quem fez o gol, pois os gols são raros. A frase "o Juninho Pernambucano tem que entrar nesse time" flutua no ar como o pólen. Se vem dos jogadores, de jornalistas escaladores ou da própria comissão técnica, não se sabe. Pode estar havendo uma rebelião ou pode ser tudo lenda. Só se deve ter certeza de uma coisa: o Parreira não está dormindo.