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É em empresas como a Lehman Brothers e a Merrill Lynch que reinam executivos, gerentes de contas e corretores tão ricos e poderosos que receberam o apelido coletivo de Mestres do Universo. Seus rendimentos – entre salários, comissões, bonificações e dividendos – são tão desproporcionais aos de qualquer outro ramo de atividade profissional que adquiriram uma espécie de propriedade mística, como a transubstanciação na Eucaristia: incorporam a distância que separa Wall Street da economia real e o capital produtivo do capital como abstração autogerativa, e são o mais próximo que o valor de qualquer trabalho já chegou da metafísica. Os Mestres do Universo são produtos rarefeitos da "exuberância irracional" que dominou o mercado de capitais nestes últimos anos, na frase que já merece ser imortalizada como nome de banda de rap. Seu poder e sua riqueza deram a medida da irracionalidade.

Como não existem ateus nas trincheiras, não existem liberais ortodoxos para protestar quando o Estado interfere para salvar empresas combalidas. Basta, para ter direito ao socialismo que não diz seu nome, que a empresa seja tão grande que sua queda derrubaria mais do que convicções ideológicas. Ou seja, que a empresa tenha o poder de chantagem. Os americanos gostam de fazer pouco do que chamam de "crony capitalism", ou capitalismo de compadres, de outros países em contraste com a pureza impessoal do seu mercado, mas desde que salvou a Chrysler no governo Reagan porque ela simplesmente não podia falir, e através de outros governos firmemente antiintervencionistas, culminando com o socorro do Bush a bancos e financeiras na crise atual, o Estado vem cedendo a repetidas chantagens, no que só pode ser chamado de "mafia capitalism" .

Não chore, portanto, pelos Mestres do Universo. Seja qual for o desfecho da crise, o capital financeiro continuará prevalecendo, e se auto-remunerando na mesma escala sideral – ou talvez com algum novo comedimento para não pegar mal. Outros gigantes financeiros estão ameaçados de ruir como a Lehman Brothers, mas nenhum dos seus executivos sairá sem uma boa compensação, sem contar com o que já acumularam nos anos de exuberância. E é difícil acreditar que o Estado deixe uma Goldman Sachs, que já deu colaboradores e idéias para tantos governos americanos, sem ajuda. Qualquer pedido que ela fizer será um pedido que o Estado não pode recusar.

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