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Dois chutes perfeitos liquidaram a Alemanha. Nenhum alemão está achando graça, mas numa Copa de chutes ruins, não deixou de ser uma ironia.

Foi a Copa das mãos na cabeça. O gesto que mais se viu em campo aqui na Alemanha foi o de jogadores levando as mãos à cabeça. O que os desesperava eram os seus próprios erros. O gol imperdível que perdiam. O tiro torto. A bola chutada em cima da linha que, em vez de entrar, ia dar na bandeirinha do córner.

Havia algo de falso dramático no gesto. Algo de operático. Significava que o erro era tamanho, e tão incomum, que nada menos do que o descabelamento simbólico daria uma idéia da dimensão da tragédia. Nada menos do que mães de ópera clamando ao céu contra o destino. E no entanto nada foi mais corriqueiro, nada foi mais comum nesta Copa do que o chute errado.

Dirá o leitor mais tolerante que o chute errado faz parte do futebol. Que sempre se viu mais chute errado do que certo. Que não é fácil direcionar uma bola com violência com o pé, logo o pé, esse instrumento tão rasteiro e impreciso. O leitor mais tolerante é uma ótima pessoa, mas não está entendendo o que eu quero dizer. Primeiro que justamente por ser esperado e desculpável em condições normais, o chute errado não justifica o gesto teatral. Segundo, que o que se viu de chute errado nesta Copa ultrapassou o normal. Pode-se entender a quantidade de passes errados, que também chegou a proporções epidêmicas. As defesas estão mais compactas, a marcação está mais vigorosa, o jogo bem tramado tornou-se uma relíquia de pátio de escola. Mas o volume dos chutes a gol que vão longe do gol só tem uma explicação: os caras não sabem mais chutar. As mãos na cabeça são um disfarce. Ou então esta era para ser mesmo a Copa do mau futebol.

Não vamos falar dos pênaltis mal batidos porque pênalti não é futebol. Não é nem um esporte. É um teste de nervos e caráter com bola.

Ontem, Del Piero deu um exemplo escandaloso de chute torto. Com o gol aberto na sua frente, acertou um fotógrafo. Pouco depois, seu chute excepcional, no segundo gol italiano, aquele que fez a volta no goleiro e entrou no canto, foi a exceção mais memorável, até agora, à síndrome das mãos na cabeça.

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