Essa lambança no Corinthians traz de volta o velho mistério do futebol brasileiro, qual seja, dois pontos: por que ele não dá certo? Dar certo no caso significa ser um negócio altamente rentável mesmo sendo razoavelmente legítimo, já que as condições para isto existem aqui mais do que em qualquer outro lugar do mundo. No fundo é a mesma pergunta que se faz sobre o Brasil. Como o Brasil, o futebol também é uma nação populosa com recursos naturais inesgotáveis, com tudo para ser rica e feliz – e não é. Vive em permanente estado de miséria material e moral. Por quê? Aqui o futebol tem tudo que um negócio precisa para prosperar – um enorme público cativo, mão-de-obra barata, publicidade de graça e praticamente nenhum concorrente no seu ramo, o do esporte profissional – e não apenas não prospera como fica cada vez mais indigente, vivendo da alienação do seu patrimônio e enriquecendo só uns poucos. Os clubes estão falidos, os jogadores precisam sair do país para serem bem pagos – ou, em muitos casos, para simplesmente serem pagos – e nem uma grande imprensa esportiva existe, pelo menos não em proporção ao seu mercado estimado. (Basta comparar o que existe em matéria de publicações sobre futebol aqui e em países como Itália, França, Espanha e, para não ir tão longe, Argentina.) Qual é o mistério?

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Não vale apelar para a danação genética, aquela do brasileiro não tem jeito mesmo. Nem à velha história da impossibilidade de uma civilização séria nos trópicos. Somos tão exagerados na nossa baixa auto-estima que até já inventaram que se começasse a dar dinheiro em árvore, no Brasil, teríamos duas semanas de euforia – todos os problemas resolvidos e todas as contas pagas, as pessoais e as do país – mas na terceira semana as coisas começariam a dar brasileiramente erradas e no fim de um ano estaríamos importando dinheiro, pois o custo de importar seria mais baixo do que o de colher. O fato é que o fracasso do futebol como negócio no Brasil provoca a mesma perplexidade que provocaria o fracasso de sucessivas colheitas de dinheiro. Como é que pode? Ou como é que não pode?

Talvez a explicação esteja na lógica simples que, a História nos ensina, rege o capitalismo. Este sempre passa por uma fase de gangsterismo empreendedor antes de ficar respeitável e socialmente responsável. O futebol brasileiro só estaria um pouco atrasado em relação a esta rotina. Aqui a fase dos bandidos estaria demorando um pouco mais para acabar.

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